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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Selda, a palavra revelada

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publicado em 23/04/2022 às 08h50
atualizado em 23/04/2022 às 05h51

Nunca mais vi Selda Falcone caminhando no mar do Cabo Branco. A saudade veio surgindo devagar, aumenta, quando há algum tempo não se alimenta de abraços e beijos. Para a alma, nesse caso. Selda é a palavra revelada.

A saudade vai se avolumando, ganhando cada vez mais importância e espaço até se tornar algo imperativo. A saudade mata a gente. É como uma coisa pragmática.

Outro dia, conversava com ela por mensagens e essa forma de comunicação não traz expressivamente uma realização, do amor que temos um pelo outro.

Quantas mensagens estamos a enviar e a pessoa visualiza e não responde.  Muitos não dão o retorno,  e tem os que ficam com seu aplicativo sem os tracinhos azuis. Quem te viu, quem não te vê.

Selda responde sempre, mas melhor seria vê-la com sua amiga Eliane Guerreiro, nas caminhadas à beira mar.

Minha fome, quando não saciada, não se rende. Fome de viver, que se nutre de outras energias, o sorriso de alguém, o jeito mais antigo de se comunicar, chamando pelo nome.

Por um rasgo de segundos a gente se conforma, mas melhor é estarmos juntos, aqui e no amém.

Outro dia vi a história de uns pescadores do Pará, que ficaram à deriva 17 dias numa ilha e mandaram uma mensagem numa garrafa pet amarrada numa boia. A cena me pareceu a ressurreição.

Noutro dia ouvi novamente a canção Marajó ( a ilha onde os paranaenses estavam perdidos), uma bela canção de Álvaro Lancelloti.

Quem nunca ouviu o molejo de “Tarde em Itapuã”, na voz de Toquinho e Vinícius, não sabe o que está perdendo – a canção de Álvaro traz  o movimento das ondas que está bem situado nos dois discos de Lancellotti: “Canto de Marajó e O Tempo Faz a Gente Ter esses Encantos”.

O som de Lancellotti é um balanço suave, quase O Barquinho de Roberto Menescal. 

O mais recente, “Canto de Marajó”, traz um diálogo com o batuque da vida e com um movimento da onda do mar, de um mar calmo, à beira da praia; em meio a uma busca por sonoridade de cânticos religiosos em algumas das canções. É muito bonito!

Sinto essa vontade de Vinicius de Morais, passar uma tarde em Itapuã, ao Sol que arde em Itapuã, ouvindo o mar de Itapuã, falar de amor em Cabo Branco.

Contento-me com pouco, o olhar já me basta. Salve, Selda!

Kapetadas

1 – Sou amante dos crepúsculos, dos primeiros raios do sol e das sombras enluaradas.

2 – Então, lembro o poeta Drummond: “A tarde talvez fosse azul”.

3 – Som na caixa: “E a chamei de rainha, e a chamei de rainha”, Djavan

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB