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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Às vezes Exupery

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publicado em 26/04/2022 às 07h00
atualizado em 25/04/2022 às 15h28

Depois de muito tempo de convivência com Exupery, descobri que esse “tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”, é uma frase confusa.

Na verdade, cativar é tornar cativo, aprisionar e não é esse rumo que deveríamos dar a amizade. É a definição clássica, grega mesmo, de paixão – uma doença que aprisiona o sujeito. Mesmo que em vida a gente viva numa eterna prisão.

Não podemos viver de cobranças. Amigo é não é para ser cobrado. Se seu amigo não atende o celular, é porque ele está ocupado ou não pode atender, não quer atender.

Daí que cativar não tem nada a ver com amizade, que é, por natureza, uma sensação livre. Assim sendo, sugiro: “tu te tornas temporariamente irresponsável por aquilo que libertas”. Entendeu?

É melhor ouvir Caymmi para entender que “se fizer bom tempo amanhã eu vou. Mas se, por exemplo, chover, não vou. Esse “por exemplo” é o que faz a poesia. É a melhor definição de poesia, inclusive porque não é uma definição.

“Por exemplo”, nessa frase, é a ambição de escrita, mas, enquanto não sou capaz de um “por exemplo” como esse, vou escrevendo outras coisas até acertar.

Há poucos dias disse a uma amiga que eu não sei mais escrever, que de tanto escrever não sei mais o que abordar, muito embora os temas são inacabáveis.

Me lembrei de ter lido um ensaio sobre o livro “Formas do Nada”, do carioca Paulo Henriques Brito.

Uma história tão antiga que se passa debaixo de uma árvore, no meio de um lugar abandonado, na cidade de Morro da Garça, onde Guimarães Rosa ambientou o conto “Recado do morro”.

Não sei, mas considero “Formas do Nada” um dos melhores livros de poesia escrito no Brasil nos últimos anos.

Foi um acaso eu ter lido o ensaio dobre a poesia de Paulo, mas agora, na lembrança, vindo acidentalmente, soou como mais um dos recados alterados do conto de Rosa.

Todo recado é uma versão. Na minha versão, cada um que dê conta do seu recado, porque nem todo recado é dado.

Nem sempre Exupery, mas se fizer bom tempo, eu vou.

Exupery

Antoine de Saint-Exupéry desapareceu em um acidente de avião. Ele estava em uma missão secreta na África em julho de 1944 e a partir de então não foi mais visto. Os restos do avião foram achados somente em 2004, mas seu corpo nunca foi encontrado.

Caymmi

O cantor e compositor Dorival Caymmi, morreu aos 94 anos. Um dos maiores criadores da música popular brasileira, Caymmi foi vítima de insuficiência renal. Ele faleceu em 16 de agosto de 2008, em seu apartamento no Rio de Janeiro

Rosa 

Guimarães Rosa (João G. R.), contista, novelista, romancista e diplomata, nasceu em Cordisburgo, MG, em 27 de junho de 1908, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 19 de novembro de 1967.

Paulo

Paulo Henriques Britto nasceu no Rio de Janeiro em 1951, é escritor, professor e tradutor. Publicou sete livros de poesia, o mais recente deles sendo “Nenhum Mistério” (2018). O “Castiçal Florentino” é seu retorno ao conto depois de “Paraísos Artificiais” (2004).

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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