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Magistrado, colaborador do Diário de Pernambuco, leitor semiótico, vivendo num mundo de discos, livros e livre pensar. E-mail: [email protected]

Maior que Clarice

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publicado em 28/04/2022 ás 07h00
atualizado em 27/04/2022 ás 18h59

 

Quando adquiri tempos atrás um livro de pouco mais de cem páginas por quase oitocentos reais, escrito por uma autora que pouquíssima gente ouvira falar, fui chamado de louco. Engraçado que a loucura é o substrato da genialidade dessa escritora.

A autora escreveu somente dois livros que estavam esgotados e apenas eram encontrados em sebos. Quem entende do risco do bordado disse que ela era muito melhor que a aclamada Clarice Lispector, sempre reeditada e queridinha dos usuários das redes sociais, que lhe atribuem frases tão abiloladas que chego a duvidar que a ucraniana/pernambucana as tenha escrito.

Não ouso desconhecer a grandeza de Clarice, mas foram o poeta Ferreira Gullar e o escritor Carlos Heitor Cony, na Folha de S. Paulo, quem comparou as obras das duas autoras. Agora, o público leitor, gastando bem menos do que eu gastei, poderá conferir e fazer sua avaliação. É que a Editora Autêntica acaba de lançar uma caixa com os livros Hospício é Deus e O sofredor do ver, de Maura Lopes Cançado, que por sofrer de esquizofrenia, estava sempre internada em manicômios de onde escreveu parte de sua obra.

Sobre Maura disse Cony: “Clarice, de certa forma, viveu em sua redoma; Maura, não. Maura não é peixe de aquário: é peixe de oceano, que vai fundo”. Gullar, não deixou por menos e ressaltou que a obra de Maura “é um dos mais contundentes depoimentos humanos já escritos no Brasil”. O poeta maranhense sabe bem do que está falando.

A editora Maria Amélia Mello assegura que: “O que a gente quer é que olhem para o texto dela, que é visceral, tem alta voltagem, e que uma geração inteira desconhece”.

Maura teve uma vida intensa e trágica e, num surto chegou a matar por sufocamento uma outra interna no manicômio. Fatos como esse chegaram a ofuscar o brilhantismo de sua carreira literária, encerrada aos 63 anos com sua morte, em 1993.

Essa mineira voou alto, nos dois sentidos, ao pilotar um avião que ganhou de seu pai e ao escrever suas duas únicas obras. Portanto, vamos voar até uma livraria e encontrar Maura!

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB