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O professor Charles Grivel cunhou o termo “fotoliteratura” para designar produções que ataram a produção literária à imagem fotográfica, bem como os processos de fabricação que caracterizam seus valores semióticos e estéticos. Quando o termo foi difundido, tanto a câmara clara quanto a pena já haviam sido bastante desenvolvidas.
Compartilhando a capacidade de contar histórias, a literatura e a fotografia tiveram origens bastante distintas. Enquanto a escrita sistematizada, em diversos momentos da história, foi conhecimento destinado apenas a elites, a fotografia permitiu às massas verem seus próprios rostos fora do espelho. Afinal, os retratos mais antigos eram pintados, e por isso, dispendiosos.
Como boa arte, a fotografia não foi completamente bem recebida em sua origem. Poucos eram como Pablo Picasso, que acreditava na fotografia como instrumento de libertação para o artista pensar fora da casinha, porque a pintura não necessitaria mais de uma precisão cirúrgica. Até mesmo esta aceitação recorre a uma oposição entre técnica e atividade humana, colocando o artista e o fotógrafo em categorias distintas.
Hoje, já não é passível de discussão se a fotografia é arte. O valor artístico da imagem anda lado a lado com outras expressões culturais e as transforma. A invenção da fotografia tirou do texto a predominância da distribuição do saber e, paradoxalmente, enriqueceu a instituição literária. Afinal, o próprio livro não combina ideias fotográficas e literárias? O exemplo mais óbvio desta combinação se encontra em muitas capas, mas há livros, como Só Garotos, de Patti Smith, cuja poética reside na junção de imagem e verbo. Quanto mais arte, melhor.
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OPINIÃO - 22/11/2024