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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Outros Ciclâmenes

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publicado em 03/05/2022 ás 07h00
atualizado em 03/05/2022 ás 07h34

Outro dia achei que tinha visto um Ciclâmen no jardim da nossa casa, perdido entre as cores da Begônia ou cor de rosa arroxeada, do cíclamen-da-pérsia ou o cíclâmen do Líbano, da canção de Caetano Veloso.

A canção nos encaminha à cor da flor do ciclâmen, que Caetano chamou seu amigo Jaques Morelenbaum para fazer um belo arranjo de orquestra focado nos timbres vindos do Oriente Médio.

Fiquei curioso para ler o livro “Estufa com Ciclâmenes” de Rebecca West, que trata dos julgamentos dos nazis em Nuremberg, no pós-guerra e sobre as consequências da loucura nacionalista da Alemanha, mas é melhor ouvir uma canção.

Voltei ao jardim. Eu li que o ciclâmen é considerado uma planta de sentimentos duradouros e carinho sincero. Já imaginou, uma planta sentimental?

Seu tubérculo lhe permite suportar condições difíceis – o ciclâmen também é a flor do amor profundo. Fiquei feliz. Quero namorar um cíclâmen e “que os anjos reclamem”.

Li mais: para os antepassados, os pedúnculos do ciclâmen simbolizavam o amor maternal uma vez que as suas flores curvavam de forma elegante para retornar ao chão durante a sua formação. Puxa vida, curvar-se de forma elegante, é demais..

O nome ciclâmen, a espécie, acredita-se, seja originária da Grécia. Graças a sua beleza e versatilidade, elas estão no mundo todo e hoje é facilmente encontrada na canção de Caetano Veloso.

No Japão o ciclâmen é a flor sagrada do amor, mas os japoneses impuseram um regime de terror na península coreana entre 1910 e 1945. Até hoje as feridas continuam abertas.

O ciclâmen era das flores preferidas de Leonardo da Vinci. No início do século XVI, da Vinci utilizava esta flor para cobrir as margens dos seus manuscritos.

Entre tantos outros cíclâmenes, os nossos, imaginários, os desejos como aparecem na canção de Caetano e “que no céu proclamem”, diz ele.

O Ciclâmen é narrado por Rousseau, (aquele que tinha os filhos e entregava ao Estado), na sua obra “Os devaneios do caminhante solitário”

Agora em 2022, Caetano traz o ciclâmen de volta.

Tudo é belo no ciclâmen. Imagino um ciclâmen pastel, misturado na multidão; um ciclâmen não implora para ser visto, ele é o ciclâmen.

Na canção, Caetano deseja que as almas se chamem e os corpos se amem. O mesmo que pedimos, sonhamos. Ciclâmen do Líbano, outros cíclâmenes.

Kapetadas

1 – A matéria que eu mais gostava na escola era olhar pela janela e sonhar.

2 – Que a carne pulse, que a seiva escorra.

3 – Som na caixa: “Teu sol, véu dulcíssimo/Flor em carne e espírito”, CV.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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