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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

O enterro de Shireen

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publicado em 17/05/2022 às 07h09
atualizado em 17/05/2022 às 04h54

Quando eu era pequeno, da calçada da nossa casa, via um pequeno grupo de pessoas levando um morto dentro de uma rede. Eu não entendia.

Meu pai me dizia que eram pessoas pobres, que não tinham como comprar um caixão. Anos depois, ele me contou que a prefeitura tinha comprado um caixão, mas que o morto só usaria até o cemitério –  lá seria colocado na cova com a mortalha.

Eu cresci vendo muitas solidões.

Minha mãe me levava a todos os velórios e tudo me assustava: bacias com gelo e carvão embaixo dos cadáveres. Mais tarde eu li que a mãe do cineasta Luís Buñuel, também fazia isso com ele. Nada além!

Fiquei impressionado com as milhares de pessoas que se despediram na sexta-feira (13/05) da jornalista Shireen Abu Akleh, de 51 anos, em um funeral marcado por violência.

A palestino-americana, que trabalhava para a rede Al Jazeera, foi morta na quarta-feira após ser atingida por um disparo na cabeça, enquanto cobria uma operação militar israelense na cidade de Jenin.

A violência tem aumentado muito. Tenho medo. No Brasil, p r i n c i p a l m e n te.

Vi imagens do funeral que começou com a transferência do caixão da jornalista, que era cristã, do Hospital Saint Joseph, em Jerusalém Oriental ocupada, para a igreja onde seria realizada uma cerimônia religiosa antes do enterro.

No sertão, antes de serem enterrados, os mortos eram levados e não sei se ainda o fazem, para a Igreja São José. Não fizemos isso com meu pai. De nossa casa para o cemitério.

Pois bem, diante de uma multidão de palestinos, um grupo de pessoas carregava o caixão nos ombros, uma cena triste e bela, quando policiais israelenses  passaram a dar golpes de cassetetes quase provocando a queda do caixão da jornalista.

O que dizer mais? 

Uma jornalista chamada a mostrar aquilo que é seu trabalho, dispondo-se assim a arriscar a vida, é morta a tiros? É cruel.

Um vídeo mostra policiais agredindo com socos e chutes pessoas que carregavam o caixão. A polícia israelense também usou bombas de efeito moral.

Moral da história: a escalada de violência só tem aumentado, com a morte de jornalistas, negros, homossexuais, policiais que matam e são mortos, crianças, mulheres e vai ficando por isso mesmo…

Kapetadas

1 – Todas essas fotos da Lua vermelha são para lembrar que o preço do tomate está nas alturas?

2 – Só escuto o que eu quero é um tipo de mediunidade?

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB