João Pessoa, 21 de maio de 2022 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Sempre quis contar essa história a vocês. É daquelas que mostram até onde pode ir a força de vontade do ser humano. Vou tratar do Presidente americano Theodore Roosevelt na sua viagem ao Brasil. Adoentado e derrotado na sua campanha à reeleição presidencial em 1912, arrumou uns poucos pertences na mala e chegou aqui para uma aventura. Mas não uma aventura qualquer. Simplesmente juntou-se ao Marechal Rondon e constituíram a expedição cientifica “Rondon-Roosevelt”, que aconteceu entre dezembro de 1913 e abril do ano seguinte. Seu objetivo era mapear o rio da Dúvida, cuja extensão era desconhecida e que fora descoberto pelo próprio Rondon em 1909.
Ninguém pode estar preparado para o que eles enfrentaram. Desde índios que lançavam flexas envenenadas às corredeiras mortais, mosquitos enormes, chuvas terríveis que mofavam tudo, até o ataque de animais selvagens foram o dia a dia dos exploradores. Acresça-se a isso tudo os ataques de malária, roupas e chapéus comidos por insetos e até o acidente numa pedra afiada, que obrigou o ex-presidente americano a ser submetido a uma cirurgia em plena selva amazônica. Num determinado momento da navegação um redemoinho tragou o remador Simplício, que nunca mais foi encontrado. As violentas quedas d’agua obrigavam o grupo vez por outra a sair do rio e arrastar as pesadas canoas pelo meio da selva por dias seguidos. Três semanas depois do início da epopeia haviam percorrido apenas 40 quilômetros.
No meio daquele inferno o americano lembrava sempre da comida que provara numa fazenda pantaneira pouco antes do início da viagem: “- Uma sopa grossa feita de arroz e galinha e uma carne de vaca cortada em pedaços pequenos com um molho simples”, dizia ele. Tenho para mim que Roosevelt encantou-se com canja de galinha e bife de panela.
Mas a realidade era outra. Seu dia a dia era de insetos, mosquitos, formigas, onças e “os peixes mais ferozes do universo”. Fora apresentado às piranhas.
Acompanhando o ex-presidente americano vieram dos EUA seu secretário, o seu filho Kermit (24 anos) e o padre John Zahm. No entanto esse padre começou a encher o saco de todo mundo com exigências incríveis. Mandaram-no de volta no dia que ele insistiu em ser carregado numa padiola pelos índios que ajudavam os expedicionários.
O fim da aventura todos sabem. Rondon provou que a foz daquele rio desconhecido era o rio Madeira. Ganhou um Estado com seu nome, enquanto o americano ganhou um rio inteiro em sua homenagem, o rio Roosevelt.
Ilustração –
Imagem: Bettmann Archive
* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB
OPINIÃO - 22/11/2024