João Pessoa, 29 de junho de 2012 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Em uma rara entrevista à TV iraniana, o presidente sírio Bashar al-Assad disse que é dever de seu governo “aniquilar os terroristas” e proteger o povo sírio. Um dia antes do encontro entre potências internacionais e países da região para discutir a escalada do conflito na Síria, Assad descartou qualquer interferência estrangeira em Damasco.
– A responsabilidade do governo sírio é proteger todos seus residentes. Temos a responsabilidade de aniquilar os terroristas em todos os cantos do país – declarou o ditador sírio. – Não vamos aceitar nenhuma solução não síria, não nacional, nem que ela parta de um país amigo. Ninguém sabe resolver os problemas da Síria melhor do que a gente.
Durante a entrevista de uma hora, o ditador sírio disse que ao matar um terrorista estaria salvando “dezenas, centenas ou até milhares” de vidas, em uma referência ao massacre de Houla, quando mais de cem pessoas foram mortas no mês passado. Apesar de o governo insistir que a matança foi obra de gangues armadas, evidências apontam para os homens da Shabiha, milícia pró-Assad.
Sobre a possibilidade de uma interferência militar na Síria, Assad disse não acreditar que o conflito atinja tal ponto e lembrou o caso da Líbia:
– Não é uma solução a ser copiada, porque levou os líbios a uma situação muito pior. Todos nós sabemos que o povo líbio está pagando o preço.
Damasco envia tanques para a fronteira, dizem rebeldes
A Turquia também foi mencionada. Antigo aliado de Assad, hoje Ancara se tornou um dos maiores aliados da oposição síria. Nesta semana, o governo turco enviou um comboio militar para a fronteira com a Síria, em uma resposta ao caça turco derrubado por tropas sírias. Segundo rebeldes, Damasco também enviou cerca de 170 tanques para fronteira nesta sexta-feira.
– As políticas de autoridades turcas leva a mais mortes e derramamento de sangue na Síria – acusou Assad.
Nas últimas semanas, o conflito na Síria se intensificou, e a comunidade internacional corre para tentar achar uma solução diplomática. Nesta manhã, o enviado especial da ONU e da Liga Árabe Kofi Annan disse estar otimista com a reunião de sábado. Os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança, além de Turquia, Irã, Iraque, Kuwait e Qatar, se encontrarão amanhã em Gênova, na Itália.
Oposição denuncia novo massacre – Um grupo de ativistas locais denunciou uma nova matança, desta vez em Douma, subúrbio de Damasco. Segundo testemunhas, duas famílias inteiras teriam sido assassinadas após um bombardeio intenso. Depois do ataque, tropas do regime mataram dezenas de civis, enquanto procuravam um abrigo. Segundo o Observatório Sírio para Direitos Humanos, foram 41 mortos no total, mas opositores falam em 59 vítimas.
Os bombardeios começaram logo pela manhã. Douma, que tem sido alvo recorrente de tropas do governo, foi cercada, e era possível ver helicópteros militares sobrevoando a cidade. A oposição divulgou imagem do que seriam as pessoas mortas nesta sexta-feira.
– Dezenas de casas foram incendiadas, e outras destruídas – disse um ativista. – Muitas famílias estavam em estado de horror.
Desesperado, um homem que limpava o sangue do corpo de uma menina morta acusou a comunidade internacional de inação.
– É mais um massacre dos muitos massacres cometidos por Assad e sua polícia secreta. É outro massacre da comunidade internacional, de todas as grandes nações que conspiram contra nosso povo – disse ele.
O Globo
OPINIÃO - 26/11/2024