João Pessoa, 27 de maio de 2022 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Mensageiro, datilógrafo, acendedor de lampião (foto) operador de mimeógrafo, vendedor de enciclopédias. Embora imprescindíveis há algumas décadas, tais profissões foram extintas. Deram lugar a outras que parecem até oriundas de ficções científicas, como profissionais de big data. Até as carreiras de maior prestígio, como as jurídicas, têm sofrido influência digital. Hoje, é impensável que organizações importantes não atuem com um encarregado dos dados, para garantir o cumprimento das leis que protegem os dados pessoais dos indivíduos.
Num mundo em que é difícil separar a humanidade da máquina, persiste outra dualidade: separar o pessoal do profissional. Nesse sentido, a série Ruptura, fenômeno da Apple TV+, nos apresenta uma empresa cujos funcionários dinstinguem muito bem cada lado da vida. Ao entrarem no elevador da empresa, as memórias pessoais são isoladas das profissionais. Assim, não sabem com o que trabalham, quando jantam em família; sequer sabem que têm família, quando estão em atividade laboral.
O ambiente de trabalho é tão organizado e minimalista que provoca claustrofobia. Quando um livro extremamente tosco de autoajuda é surrupiado para o ambiente corporativo, muitos dos funcionários passam a tratá-lo como um guia espiritual. É uma clara crítica aos livros rasos de gestão pessoal e profissional, mas desperta também outra questão: quando não temos acesso à diversidade literária, qualquer texto parece uma obra-prima.
A relação da série com a literatura também sai das telas. A aclamação dos episódios fez com que a Apple anunciasse o lançamento de um livro que conta detalhes sórdidos sobre a empresa que divide a mente dos funcionários. É uma ruptura das convenções literárias, já que a obra é assinada por um ex-funcionário (igualmente fictício) da empresa. Se na ficção conseguem separar razão da emoção, na vida real, todas as formas de contar históri se misturam.
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OPINIÃO - 22/11/2024