Nesta semana, a TV mostrou uma discussão acanalhada entre dois figurões da República na plenitude de uma sessão oficial. Um até se levantou, para jogar bosta no outro. Será? Se fossem duas comadres brigando, diriam que era munganga de pobre, coisa de vira-lata, furdunço, e os elementos talvez até acabassem na cadeia e num desses programas televisivos que tem gosto de merda.

Mas, como o quiproquó se passou nas altas rodas dos poderes, todos nós vimos, boquiabertos, que as diatribes dessa gente poderosa é de outro naipe e feitio. Eles comem o fígado uns dos outros, chamando-os, reciprocamente, de Excelência e, se são mostrados na TV, não é em qualquer canal televisivo, mas em um programa limpinho e asséptico: o Jornal Nacional.

E mais! Se, nas pelejas do povão, mostram-se até os fundos rasgados e sujos das calças e todo o histórico dos querelantes, na briga das Excelências, só aparece um retalho da discussão, aquele pedaço do presente que melhor retrata a muvuca, deixando de fora o passado dos bastidores e o futuro das consequências.

Mas, não se enganem, não! Quando os cachorros grandes brigam e tratam uns aos outros de Excelências, excelência aí, dentro do contexto, significa a mesma coisa que sai das bocas das comadres e dos compadres em seus desacertos: filho de rapariga, filha da puta, escrota, corno, chifruda, velhaco e outros adjetivos jamais dignos de nota.

Tudo é apenas uma questão de educação. Essa gente do Poder tem a boca suja, mas a educação burguesa lhe deu o fino trato, a maneira certa de burilar as desavenças, nominar as suas cachorradas, engavetar uma denúncia contra outros poderosos, inventar uma interpretação estapafúrdia da lei…

Para falar em educação, essa gente protegida do poder quer tornar paga a universidade pública. Você, que é pobre de nascença, está na hora de chamar essas Excelências pelo nome certo. Qual? Qual? Ou prefere votar neles e nunca ter um filho na universidade? Acorda, pobre de direita!

Psiu, classe média! Você é pobre também!

@professorchicoleite

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