João Pessoa, 30 de maio de 2022 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Sinto uma saudade. Ela não tem nome, não tem feição, não tem cheiro.
Mas tem corpo. É pesada. Como eu sei? Dói quando vai cair dos olhos.
Não é fácil explicar a minha relação com ela. Mas, vou tentar. É como um hóspede que não recebeu nenhum tipo de convite, mas veio. Entrou, instalou-se. Tento seguir a pisada da vida ignorando sua presença. Ele entra no cômodo onde estou. Eu saio. Às vezes não consigo. Ela me pega totalmente displicente. Aí, já viu… damos início a uma longa conversa na qual ela fala, fala, fala e fala muito.
Me lembra de paisagens, de sorrisos, de estradas percorridas, de metas traçadas, de sonhos conquistados. De coisas e pessoas que ficaram para trás. Tento fugir da conversa. Mas ela me prende, ignorando totalmente a minha vontade.
Nessas horas, gostaria do cinismo de Antístenes. Gostaria de ser rasa, rente ao solo, como uma poça d’água que se forma no chão de paralelepípedo, durante a chuva. Ignoraria totalmente suas investidas. Mas, ela me conhece. E tem o sadismo do Marquês.
Sabe o que é mais peculiar nessa relação? Nos conhecemos profundamente. Tudo nela é totalmente previsível para mim. Mas, ela sempre alcança o seu objetivo. Sempre me machuca com a mesma força, a mesma intensidade. Por vezes, quando acorda bem-humorada, toma o seu café, dá um bom dia e some, passa o dia fora. O ruim é que esses dias são raros. Geralmente, estrategista como ninguém mais, ela nunca anda sozinha, sempre traz consigo velhas amigas: a dúvida, a culpa, a desesperança.
Não pense que é fácil falar sobre minha relação com a saudade que mora em mim. Pode ter certeza de que ela está entre nós, neste exato momento. Inquieta, revoltada, como um bandido que acaba de ser desmascarado. E é justamente nesse ponto da batalha onde eu saio vitoriosa. Mesmo sabendo que amanhã ela volta, por hoje venci. Olhando-a de frente. Ouvindo tudo que ela tem a me dizer. Aceitando meus erros mas também derrubando suas falácias.
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VÍDEO - 14/11/2024