João Pessoa, 31 de maio de 2022 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
A medicina tomou de 7 a 1 outra vez. Quando alguém se diz profissional, ele não o é somente por si, ele representa a todos que estão no mesmo time. Depois de ter vencido de goleada a maior catástrofe de saúde do século, não poderia sairmos entregando o jogo feito umas pernas de pau (foto)
E, nesse campo, onde, de um lado estão as doenças, e, do outro, os que as enfrentam em partidas duras e de resultados inesperados, em que tanto podemos marcar gols sensacionais, quanto, da mesma forma, levá-los. Não existe posicionamento mais ou menos: você ou é, ou você não é.
Como há no futebol campos ruins de jogo, eles também existem na Medicina. É assim no campo das urgências e emergências. Profissionais sobrecarregados, sob pressão, submetidos a falta de condições para executar os procedimentos capazes de resolver de casos mais simples aos mais graves. Em paradas cardíacas, insuficiências respiratórias agudas, que são algumas das marcas fatais, momentos finais que podem ser revertidos, a depender da capacidade de quem ajuda, e da disponibilidade de instrumentos a serem manejados.
Mesmo assim: não há meio termo. Ou sua conduta é de um humanista; ou se coloca ao lado do desleixo, da falta de respeito, do gesto desumano. Foi desse jeito que uma médica, ou estudante, não sei, se manifestou em sua rede social, como se falasse dentro do seu quarto de dormir desabafando alguma agrura. E marcou 7 gols contra de uma só vez. Disse ela: “tem que ser Filha de uma p… pra vir 1 da manhã no pronto socorro por conta de infecção urinária viu, não tem outra expressão pra descrever”.
Morri de vergonha por essa mulher ser de minha categoria profissional; e que fosse de qualquer profissão de saúde, porque sei que esses profissionais também sentiriam. Num país em que há dificuldades para exames, para atendimentos clínicos em geral e procedimentos, todo mundo sabe que, em plantões, vão aparecer casos agudizados, que deveriam ter sido tratados antes.
Quem sabe uma dor pode não poder esperar o dia seguinte, o sumário de urina, a cultura com antibiograma, a receita do antibiótico adequado. A profissional leu, no seu manual da saúde, apenas sua dor, esqueceu de compreender a perspectiva de uma paciente que acorda com dores nas vias urinárias, embora até possa ter negligenciado o momento de cuidar.
Perdeu a chance de fazer silêncio. Perdeu de reafirmar seu juramento. Escarneceu dos pacientes e sujou a imagem da abnegada medicina brasileira. 7 a 1 para você, cidadã, no jogo displicente que você joga, contra a medicina que eu ensino e respeito.
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OPINIÃO - 22/11/2024