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Professora Emérita da UFPB e membro da Academia Feminina de Letras e Artes da Paraíba (AFLAP]. E-mail: [email protected]

Crisma – a cultura religiosa

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publicado em 02/06/2022 ás 07h51

A religião católica, em grande parte do mundo, é única. Através da amiga Germana, que mora na Alemanha, na cidade de Uberlingen Deutschand, soube que seu neto Alexandre, no dia 21 de maio próximo passado, participou da celebração da cerimônia do Crisma. Os sacramentos são os mesmos, mas a cultura local adota prática e cerimonial próprios da região. A essência teológica é a mesma, porém o ritual é diferente.

Achei muito significativo como a sociedade católica alemã é tão fervorosa e imbuída de valores cristãos, mais do que a do Basil. Pelo menos é a leitura que faço, na minha vivência. Não vi nada igual. O que me surpreendeu, pois concebia e imaginava que o povo alemão era ateu e agnóstico, sem muita crença religiosa.  Segundo Germana, lá há quatro datas religiosas que são valorizadas e festejadas com honras e protocolos. São elas: o Natal, a Páscoa, o Matrimônio e a Confirmação, que é o Crisma. As comemorações são glamurosas por tradição:  almoço, à tarde o café com bolos e doces, e à noite um Brunch de despedida, quando todos os convidados regressam às suas casas.

O Crisma, segundo a doutrina da religião católica, é um sacramento que, juntamente com o batismo e a eucaristia servem para iniciação cristã da Igreja Católica, em que o fiel recebe através do celebrante uma unção que é o óleo chamado Crisma. São sinais eficazes instituídos por Cristo e confiados à igreja, por meio dos quais nos é conferida a vida divina. Trata-se de uma cerimônia em que o ministro sagrado impõe as mãos sobre os confirmados, invocando o Espirito Santo e os unge com o óleo de oliveira. O crismado é chamado soldado de Deus que recebe os dons do Espirito Santo, que são sete: ciência, conselho, fortaleza, inteligência, piedade, sabedoria e temor a Deus. É denominado de Confirmação porque é a confirmação do batismo pelo Espirito Santo segundo o qual o crismando assume ser cristão e recebe o Espírito Santo. Há muito sentido na confirmação porque no batismo a iniciativa parte dos pais que impõem à criança recém nascida adotar a religião católica, e, no crisma, a pessoa já é adulta e há a consciência de que quer pertencer e adotar os princípios do catolicismo por sua própria vontade.

Germana encarregou-se de preparar a festa do Crisma de seu neto. Num primeiro momento faz tudo que possa realizar com antecedência em sua casa, e o restante, fica para ser concluído na cidade de Penzberg, onde habita Caroline e juntas organizarem a grande festa, tudo feito e elaborado artesanalmente por elas, o que dá às comemorações mais brilho e significado sentimental. Expressa: “Construo tudo com muito esmero. Quero que o Alex tenha uma linda lembrança de sua Confirmação. Sou uma avó coruja, encantam-me meus netos”. Tudo Começa antes do dia da reunião para que ocorra de modo impecável. E acrescenta: “são momentos que desfruto com grande alegria junto à família.” A avó Germana possui habilidades culinárias, aprendidas com dona Carminha, exímia cozinheira, confeiteira e quituteira, e outros ancestrais, quando preparavam os aniversários da família. Inicia o feitio de doces e biscoitos, nos moldes com qualidade e receitas variadas, usando produtos genuinamente brasileiros como o côco, pães de queijo, iguaria preferida dos netos, que é congelado e podem ser armazenados, geralmente confeccionados à noite quando dispõem de mais tempo. O cardápio é versátil. Inclui comidas internacionais, visto que Germana morou em diversos países e neles aprendeu o que havia de melhor nessa área. Como os biscoitos da Alemanha, os docinhos do Brasil, o doce de queijo com cobertura de framboesas do Equador, e por aí vai…

A cerimônia inicia-se na Igreja com a entrada dos confirmantes, avós maternos e familiares, com direito a fotos. Ao término, dirigiram-se à casa para o café da manhã. Reuniram-se no terraço devidamente decorado com mesas ornamentadas com toalhas finas, cristais, pratarias e flores deixando o ambiente prazeroso. O almoço foi num restaurante. À noite, o ambiente, com luminárias, dava ao recinto um glamour todo especial, onde foi servido o brunch regado com champanhe, vinho e cerveja, acompanhado de salgados, empadas, pão de queijo, frios e os bolos e doces, para encerrar.

Como diz minha amiga Leticia Teixeira: “Em tudo que se faz com dedicação e carinho e coloca-se uma pitada de amor, tem sabor diferente”. Fala Germana, concluindo: Confeccionar essas iguarias traz-me muita satisfação e faz-me feliz, a mim e aos meus, lembrando o tempo de criança, quando ajudava a mamãe nos aniversários. Tempos tão queridos”. E assim, Germana, em seus feitos culinários, procura amenizar a saudade infinda e a distância que sente de sua terra e familiares. Coloca o saber aprendido com os antepassados fazendo-o presente, nos quitutes e, com isso, eternizando-o de geração em geração. Está aqui, o registro de uma festa típica religiosa vivida na Alemanha.

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