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Magistrado, colaborador do Diário de Pernambuco, leitor semiótico, vivendo num mundo de discos, livros e livre pensar. E-mail: [email protected]

Escritores e suas obras

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publicado em 09/06/2022 ás 06h56

 

Os autores costumam dizer que após escreverem seus livros e os lançarem, eles não mais os pertencem, e sim ao público leitor. Muitos sequer os releem para não sucumbirem à tentação de alterá-los, seja cortando ou acrescentando. Isso no texto de ficção, porque nos demais a revisão e atualização se faz sempre necessária, a exemplo dos livros técnicos e doutrinários. Será que Machado ou Rosa alterariam suas obras-primas?

Existem escritores que escrevem para os críticos, outros os ignoram. Mas, enfim, qual o verdadeiro papel do crítico literário? A escritora Marina Colassanti entende que “A crítica literária sempre foi fundamental para a discussão e valores, para a renovação dos nomes, para a análise da produção literária e para a orientação do público leitor. Lamentamos todos que no Brasil tenha praticamente desaparecido. O murmúrio crítico da área acadêmica mal se ouve, e a imprensa, que já teve críticos memoráveis, entrega agora seu espaço a resenhas e listas de mais vendidos”.

Além de suas obras, gosto também das opiniões dos escritores – não querendo dizer que concorde com todas -, debates, entrevistas, pontos de vista, documentário sobre vida e obra. Mas o escritor é um ser imaculado? Todo escritor é um bom caráter? Nem sempre. Na opinião do escritor Milton Hatoum, “Nem sempre literatura, ética e intolerância andam juntas. Villon, o grande poeta francês, foi ladrão, criminoso. Um poeta literalmente desgraçado. Céline foi um racista e antissemita; ele e vários escritores franceses  apoiaram a França de Vichy, ocupada pelos nazistas.”

                            As entrevistas de Marina Colassanti (foto) e Milton Hatoum, dentre outras, foram reproduzidas no “O livro das palavras – Conversas com os vencedores do Prêmio Portugal Telecom”, organizado por José Castello e Selma Caetano (Editora Leya, 2013). São conversas fascinantes com escritores de língua portuguesa que, ao longo de mais de seiscentas páginas, nos mostra que ler vale a pena, não importando ser o autor intolerante, ladrão, cafajeste ou picareta, desde que seja genial na carpintaria da palavra escrita.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB