João Pessoa, 10 de junho de 2022 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
A história de um escritor vai muito além de suas obras – embora elas sejam o meio mais interessante de conhecer sobre o autor. Visitas às casas e aos acervos do escritor, turismo pelos monumentos que o homenageiam e roteiros que seguem destinos literários importantes aproximam o leitor da vida imaginada do autor.
Leitores meramente curiosos desfrutam destes espaços, mas os formadores de opinião parecem aproveitá-los ainda mais. O pensador Walter Benjamin (foto) é tão afetado por uma visita à casa de Goethe que transforma suas impressões em dois ensaios de reminiscências, nos quais exalta Goethe até na simplicidade de seus aposentos. Para Benjamin, até a modéstia dos cômodos serviria para focar no processo criativo. Chega a sonhar com o homem por trás de Os Sofrimentos do Jovem Werther, fantasiando sobre o encontro impossível dos dois, já que Benjamin nasceu décadas após o falecimento de Goethe.
No Brasil, ainda é fraca a cultura de preservar as lembranças de um literato além das páginas escritas. Até temos a Casa do Rio Vermelho, em Salvador, onde Jorge Amado e Zélia Gattai viveram até 2003. Todavia, o preojeto museográfico é uma exceção. A casa na rua do Cosme Velho, onde o bruxo Machado de Assis morou, estava em reforma para virar um depósito de supermercado. Onde dormiu o maior de nossos escritores talvez esteja uma prateleira de sabonetes e pastas de dente. Nos resta desejar para que, no mesmo local onde Assis escrevia, esteja ao menos a prateleira de papelaria, e não de amaciantes.
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OPINIÃO - 22/11/2024