João Pessoa, 20 de junho de 2022 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Às vezes tenho medo. Um medo bem específico. Despudoradamente te digo qual é. É o medo da solidão.
Só. Às vezes, necessariamente. Para trabalhar, para criar, para pensar, para decidir, para descansar. Desta não tenho medo. Por ela, quase sempre anseio. Ela não sufoca, ela liberta.
Só. Suportando o insuportável, traduzindo o indizível. Criando conexões com o invisível. Carregando fardos impossíveis de transportar sozinha. Esta, esta amedronta.
Graças a este medo, frequentemente fujo. Vou para um lugar paradoxalmente solitário. Mas é lá onde estão todos. Onde está tudo o que importa.
Fujo porque nada externo a esse lugar é capaz de acabar com a fera que devora. Nem os mais altos sons, nem as cores mais brilhantes. E tudo fica como uma rua, à noite, sozinha, iluminada pela lua, também só, em seu pedestal de luz. Ela está lá, rodeada por astros e estrelas, mas não possui conexão significativa com nenhuma delas.
A esta altura, você já compreendeu que não se trata de estar só, mas sim, vazio.
Vazio, mas, ao mesmo tempo, abarrotada de sentimentos e pensamentos profundos demais, que necessitam ser compartilhados.
Quase sempre fingimos não sentir. Quase sempre preferimos não falar. Talvez numa tentativa de fazer o buraco negro desaparecer. Mas ele está lá. Então fujo. Fujo não do sentimento, mas do lugar. Vou para onde reencontro pessoas que já não estão. Para onde ouço palavras que já não são mais ditas. Para dias repletos de risos. Dias quentes, de sol. Ou dias frios, acompanhados de um aconchegante cobertor.
Fujo para dentro de mim. Reconecto-me com o mundo onde somos contados um a um. Me enfrento e me sirvo de companhia, até sentir-me novamente plena.
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