João Pessoa, 24 de junho de 2022 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
O dia de São João era muito especial. Começava cedo, quando minha mãe encomendava a Chico Grosso a madeira da fogueira.
Embora eu fosse muito medroso, ainda assim guardava uns traques, para enfeitar a festa. Ás oito horas, minha mãe já quebrara o milho, e madrinha Ivanete, sentada no meio da cozinha, com minhas irmãs em volta, separava as espigas de assar e as que serviriam para a pamonha e a canjica.
A carne do cabrito, abatido no dia anterior, repousava nas panelas. O sarapatel e a buchada já estavam prontos para o almoço. Nossas roupas já estavam engomadas. Dedé, minha irmã mais velha, bordava a colcha de cama. Catita e Ana de Veizé já tinham passado lá por casa e ficariam para o almoço. Onofre estava febril, mas Maroca, já teria dado os passes de cura. Bela de Chico Grosso, havia tirado uma fornalha de panelas. Cineta de José Lourenço, saltitava de alegria:
“(…) Danei a faca no tronco da bananeira
Não gostei da brincadeira
Santo Antônio me enganou
Saí correndo lá pra beira da fogueira
Vê meu rosto na bacia, a água se derramou…”
Ah, no meu tempo de criança, era tudo assim intenso. Até os pés de pereiros estavam em final de floração, e o perfume de suas flores exalava-se ali pela caatinga, porque tudo precisava ficar perfeito no dia de São João.
Até o mandacaru, que normalmente passava despercebido ali no monturo da minha casa, abria-se, naquela época, em uma flor grandona e excitada.
Chegara a noite. A fogueira fora acesa. O fogo muito alto mas ainda não havia brasa para assar o milho e a batata-doce. Eu soltara os traques. A rodada de apadrinhamento ainda não começara. Minha mãe não deixou as minhas irmãs irem ao baile em Fazenda Nova. Papai ainda contava os causos, ali sentado na rede grande. A festa nem começara ainda, mas o colo de Dedé era tão macio e dengoso, que eu adormecia lentamente.
A música sumindo, sumindo. Eu embalançado como um anjo muito feliz:
“Olha pro céu, meu amor
Vê como ele está lindo
Olha praquele balão multicor
Como no céu vai sumindo
(…)”
@professorchicoleite
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