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Poeta, escritor e professor da UFPB. Membro da Academia Paraibana de Letras. E-mail: [email protected]

Do sertão (Poema)

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publicado em 29/06/2022 ás 06h59

 

Dizem que o sertão

se alarga por dentro,

que sua alma é deserta

e coisa nenhuma brota

de suas furnas cinzentas.

Dizem que o sertão

é só ruínas, a fome

que devassa o interior

das criaturas,

a morte seca e pronta,

de tocaia,

como um sol negro

que só dor cintila.

Dizem que o sertão

se opõe ao milagre

de qualquer geografia,

que lá a flora é parca,

a fauna assusta,

e o homem é bicho triste,

fera de sete vidas.

Dizem que o sertão

não tem poesia,

e que seus versos

vivem pelo avesso,

que suas imagens

se calcificam no dorso

das pedras,

e que nada medra

de sua magra melodia.

Eu já penso diferente,

porque no meu sertão,

se a água é pouca,

a vida é muita,

e a voz do vento

afaga o silêncio das horas,

nutre de calor

o que parece morto.

Há, no meu sertão,

escassez e luto,

como naquele

que cantam por aí.

Mas vejo beleza

nesta falta

e saúde

nas covas sombrias.

A alquimia

das coisas claras;

a geometria

do passaredo dentro

do sol;

o lençol das nuvens

no céu aberto;

a verdade

natural dos elementos.

Que meu sertão

é mais que tempo

e paisagem.

É gesta antiga,

psicologia profunda,

didática poética,

delicado mito

tecido na memória

e na palavra.

(Do livro inédito, Cemitério Vivo}

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