João Pessoa, 01 de julho de 2022 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Quem acompanhou a #MeToo alcançar os tópicos mais comentados nas mídias sociais pôde observar a prevalência do assédio e da agressão sexual na realidade contemporânea. O movimento #MeToo abrangeu mulheres famosas e anônimas que desejaram compartilhar um pouco de suas experiências traumáticas para expor a magnitude do problema.
As denúncias feitas contra o produtor de cinema Harvey Weinstein fomentaram a eclosão do movimento. Devido à forte influência que exercia no meio televisivo e cinematográfico – portanto, com o poder de acabar uma carreira – Weinstein demorou a ser acusado. Entretanto, após as primeiras vozes erguidas, logo tomaram forma uma série de denúncias de crimes sexuais contra o diretor, principalmente no ambiente de trabalho. O mérito da apuração é das jornalistas Jodi Kantor e Megan Twohey, do New York Times, que convenceram muitas mulheres a contarem seus traumas e publicaram uma reportagem sobre o caso. Tempos depois, transformaram o rigoroso processo de investigação em um livro. Ela disse, publicado no Brasil pela Companhia das Letras, é uma aula de jornalismo investigativo, comprometido com a verdade e com respeito às fontes.
Nessa linha de combate à cultura do estupro, a mesma editora já havia publicado o ótimo Missoula, do jornalismo Jon Krakauer. Diferentemente de Ela Disse, Missoula é a própria reportagem, e não um livro sobre seus bastidores. Krakauer investiga os 350 casos de estupros reportados na cidade universitária que empresta o nome ao título do livro. Vale ressaltar que se esses foram os casos registrados, há de se imaginar que existe também uma parcela oculta, já que a falta de credibilidade conferida a quem denuncia um estupro desestimula as vítimas a formalizarem a denúncia. Krakauer investiga os casos e revela algumas das razões pelas quais esses crimes acontecem e são ignorados.
Após uma semana dificílima, em que diversos meios de poder e comunicação agiram de forma suja para vilipendiar a honra de mulheres vítimas de violência sexual, ficam estes dois grandes exemplos de como utilizar o jornalismo para mudar o mundo.
* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB
OPINIÃO - 22/11/2024