João Pessoa, 01 de julho de 2022 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Tempestades próprias da juventude de um casal se abateram sobre a última casa em que eu morei. Acho que foi em 1974. Eu já passara pela terceira casa, na cidade de Uiraúna, e não tinha mais para onde ir. Para se livrar da minha chantagem, que era extrema e irritante, papai conseguiu a casa de M, um jovem comerciante, filho de um conhecido dele, de um sítio vizinho ao nosso.
Meus 13 anos não colaboravam. Eu era um estranho em uma casa estranha. Um preço alto, tudo para estudar… Mas, eu suportaria, por imperiosa necessidade de aguentar o tranco.
Meu jeito acanhado, obediente e sonso adquiriu respeito. Logo, eu estava integrado à família: ajudava M. no comércio, estudava à tardinha, brincava com o filho do casal, e D., a esposa, era uma pessoa de bom coração. Nas sextas-feiras, cantarolando, voltava a pé para a zona rural onde morava.
Era um casal jovem, duas placas tectônicas ajustando-se, embora o tempo da vida os pusesse dentro de redemoinhos mal-educados e barulhentos: a revolta da esposa, por razões justas, porque M. era mulherengo e afogueado do juízo.
No meio disso, eu. Uma imponderabilidade, uma insegurança por testemunhar as discussões. E havia T., uma moça bonita, bem-feita, irmã de M. Morávamos na mesma casa. Estudava a oitava série. Tinha a ousadia da juventude, a essência da liberdade pululando dentro de si.
Um dia, T. ultrapassou um umbral (foto) perigoso em um tempo em que o machismo era norma. Isso lhe custou a continuidade dos estudos. Seu irmão, possesso, pegou-me pela mão, e fomos procurar T. Ela estava na Churrascaria São José, onde havia um lindo casal ouvindo:
“Enquanto eu corria
Assim eu ia
Lhe chamar
Enquanto corria a barca
Lhe chamar
Enquanto corria a barca
Lhe chamar
Enquanto corria a barca
(…)”
Preta, preta, pretinha
(…)
@professorchicoleite
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