João Pessoa, 02 de julho de 2022 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Em agosto próximo, o cartunista Angeli, fará 66 anos. Em abril passado ele foi diagnosticado com “Afasia”, uma doença, cujo nome estranho é dado a toda e qualquer alteração de linguagem, afetando funções como a capacidade de falar ou se expressar, compreensão da linguagem verbal da escrita (leitura) e de escrever.
O próprio cartunista anunciou o fim da carreira, mas nada é definitivo neste universo movediço.
Você sonha acordado? Estranhos de passagem, inocentes de Tambaú que fazem viagens com velhos baseados, dizem não a estrada. Pessoas como nós, que tendo sobrevivendo o (a) Travessia até aqui, sonhar acordado é um achado.
Certamente ainda encontraremos milhares de sonolentos carregando a sua cruz, contra a insônia.
Sonhar acordado, não como uma cena mitológica, mas tem que fazer vigília e não ficar disperso diante da vertigem da ilusão.
Seja por ideologia, seja por pragmatismo, seja por amor próprio, pelo fim da picada da dengue, sonhar é necessário, se faz imediato. Nunca deixe para amanhã, mesmo que custe uma noite no meio. Você tem pressa? Não se avexe não, o vazio é incógnito e longínquo
Você guarda segredo? Vou te contar, os olhos já não podem ver.
Na série Ralched, de Ryan Murphy e Evan Romansky, que se passa antes do filme “Um Estranho no Ninho”, de Milos Forman,1975, vamos bater de frente com uma enfermeira hard boiled. A sacada é tentar humanizar a personagem, que é indagada várias vezes se sonha acordada. Ela não responde. Ora, personagem cruel não dorme.
Estamos perdiendo el tempo? Acho que não, o tempo é que não espera por nós, a tristeza é que não temos tempo sobrando mais para Angeli e outras pessoas com Afasia.
A última vez que escrevi algo bom, eu estava acordado, naquele show da Bethânia. Havia ali um sinal.
Afasia é uma palavra fora do lugar, do tom. Quando sonhamos dormindo, já acordados, tudo é repetido e nos deixa escapar os fartos desta atmosfera sonâmbula.
Dos desenhos animados, quadrinhos da memória, a Rê Bordosa e Bob Cuspe de Angeli são maravilhosos, caóticos, adoráveis, dolorosos.
Portas escancaradas – da frente e dos fundos. Vamos? Aliás, Angeli é do clã do Chiclete com Banana, assim como Jackson e seu pandeiro, pioneiro, mas ninguém é o que se diz ser, nem os corrompidos.
Essa sensação de se viver num aquário, sabe? Peixe, deixa eu te ver, peixe
Você dorme nu? Eu li que faz bem ao coração. Não vale despistar.
Você conhece a Pousada das Estrelas, em Sousa? Dino ou Dina?
Puxa vida! Ninguém consegue matar a saudade. A Francis aproveita pra também mandar lembranças. Quem já tá acordado?
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Quem procura acha?
Vou escrever um texto sobre o maldito procurador Demétrius Oliveira que espancou a também procuradora Gabriela de Barros. Ambos são sobreviventes da selva. Ele, a própria imagem do deslocamento do equilíbrio, se desligou por não aceitar disciplina. É o oposto do detetive. Não sei se saberei escrever sobre uma pessoa perdida. Mas quem procura acha, viu Demétrius?
Kapetadas
1 – Tudo que fiz até aqui, devo a quem me deu oportunidade de começar: Walter Galvão, uma teimosia minha.
2 – Seja do hoje. Se o que alguém tem para oferecer é “para um dia”, não hesite em dizer: “até um dia”..
3 – Som na caixa: “A última ficha caiu, eu penso em vocês night’n day”, Chico Buarque
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OPINIÃO - 22/11/2024