João Pessoa, 05 de julho de 2022 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Definitivamente o Nordeste não existe para uma parte da imprensa nacional. Se existir, é para justificar quão pobre é o Brasil, por carregar nas costas a desgraça dessa região.
Três programas de uma mesma emissora abordaram o São João. O primeiro, um Repórter. Mostrou, basicamente, Pernambuco. Caruaru. Mas não mostrou o São João. Centrou nas possíveis vendas de sapatos com o São João e bandeirolas (foto). Apresentou a banda de pífanos e uma escola de aprendizes do instrumento, e umas freiras que preparam licor.
Nenhuma sanfona. Nenhum forró. Nenhuma alusão ou exaltação do que é o nosso São João. Fui dormir ouvindo o som dos pífanos que, se é cultura nossa, não é propriamente cultura junina.
Na revista semanal, mostrou-se as rotinas de quatro artistas que fariam, ou já estavam fazendo as festas juninas. Nenhum deles representantes da nossa cultura. Estavam ali porque estão no auge de um sucesso que passa tão rápido quanto as bandas de forró de plástico que invadiram o São João e desaparecerem anos depois.
No dia do São João, teve um programa, restrito ao NE, dando um voleio pelas várias festas em capitais. Novamente, apresentou-se, da Paraíba, apenas Campina. E uma ressalva tem que se fazer. A apresentação de flashes da festa, era centrado em cantores nacionais, nenhum regional, nenhum matuto, nenhum pé de serra.
Se o Nordeste é pouco significativo, a Paraíba, então, dispensa que eu gaste letras. Basta dizer que durante a Revista semanal, numa rápida passagem na festa de campina, apareceu a tarja: “Campina Grande – PE, corrigido ao final do programa, possivelmente atendendo aos reclames de milhares de paraibanos.
Ato falho? Possível. Mas nos atos falhos aparecem as intenções mais profundas. Assim nos ensinou Sigmund Freud. Quando digo que odeio algo, quando queria dizer que amo, meu desejo é marcado por ódio mesmo. A manifestação da expressão “errada” é, com certeza, a manifestação mais honesta para retratar o desejo que se passa no inconsciente. É a verdade do sujeito, traindo o socialmente esperado.
Portanto, não considero um erro à toa. Acredito que, no fundo, onde não impera as convenções sociais, somos um apêndice, um incômodo, uma dor de barriga para essa gente que vomita saber, cultura, dinheiro. Se algum flash aparece entre as imagens sobre a Paraíba é para assegurar que respeitam uma suposta democracia cultural; mas, apenas, cumprem um “dever” e agem de forma engessada num palanque autoproclamado politicamente correto.
Pois continuo me achando tão notável quanto antes. E se somos um estado pobre, nem por isso somos menos importantes, menos inteligentes, para sermos tratados com tamanha negligência. Eu estou do outro lado. Do lato das minhas tradições. Por assim, deixo meu protesto, ao fechar da festa. Eu?! Outra vez, Nego!
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OPINIÃO - 22/11/2024