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Paulo Galvão Júnior é economista, escritor, palestrante e professor de Economia e de Economia Brasileira no Uniesp

É possível o surgimento do BRIICSA em 2023?

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publicado em 08/07/2022 ás 10h26

O presente artigo de economia mundial tem como objetivo principal apresentar reflexões socioeconômicas sobre o BRICS, um grupo econômico das cinco principais economias emergentes, que reúne o Brasil, a Rússia, a Índia, a China e a África do Sul.

O Brasil é o quinto maior país em extensão territorial, a sexta maior população do planeta e a décima maior economia do mundo. E o continental e populoso Brasil é um país membro do grupo BRICS (iniciais em inglês de Brazil, Russia, India, China and South Africa) e do Grupo dos Vinte (G20), além de blocos econômicos como o Mercado Comum do Sul (MERCOSUL).

Os países do grupo BRICS representam 26,7% do território mundial (com 39,7 milhões de km²), 41,5% da população mundial (com 3,2 bilhões de habitantes), contribuindo com 25,9% do Produto Interno Bruto (PIB) global (com PIB de US$ 23,5 trilhões em 2021) e 18% do comércio internacional. E “os países do BRICS produzem cerca de 1/3 dos alimentos do mundo” (SPUTINK BRASIL, 2022).

Em junho de 2022, a Argentina solicitou a adesão ao BRICS e o presidente argentino Alberto Fernández afirmou que a “Argentina quiere sumarse ao BRICS”, no Fórum Empresarial do BRICS, que precedeu a XIV Cúpula do BRICS, numa reunião por videoconferência entre os líderes da China, Xi Jinping; da Rússia, Vladimir Putin; da Índia, Narendra Modi; do Brasil, Jair Bolsonaro; e da África do Sul, Cyril Ramaphosa.

O Irã também apresentou pedido para ingressar no BRICS e o presidente iraniano Ebrahim Raisi discursou durante a reunião virtual do Fórum Empresarial do BRICS e afirmou que “O Irã está disposto a compartilhar suas vastas capacidades e potenciais para ajudar o BRICS a atingir seus objetivos” (SPUTNIK BRASIL, 2022).

Então, em plena pandemia da COVID-19, surge uma reflexão: É possível o surgimento do BRIICSA em 2023? Eu sou a favor da entrada da Argentina (45,8 milhões de habitantes e o maior produtor e exportador de óleo de soja do mundo) e do Irã (83,9 milhões de habitantes, a 2ª maior reserva de gás natural do planeta e o 8º maior produtor mundial de petróleo) no BRICS, assim, poderá surgir o grupo com novo nome, BRIICSA (Brazil, Russia, India, Iran, China, South Africa and Argentina), com 3,3 bilhões de habitantes. Provavelmente, os cinco líderes dos países membros ratificarão a adesão da Argentina e do Irã, na XV Cúpula do BRICS (ou do BRIICSA), em 2023, na África do Sul.

Na nova ordem multipolar, com a provável entrada do Irã e da Argentina ao BRICS provocariam mudanças socioeconômicas de um dos grupos econômicos mais relevantes da economia mundial, o BRIICSA, com sete países emergentes, ao lado do Grupo dos Sete (G7), que reúne os Estados Unidos da América (EUA), o Japão, a Alemanha, o Reino Unido, a França, a Itália e o Canadá desde 1975, ou seja, com sete países ricos, desenvolvidos e mais industrializados do mundo.

O BRIC abordava os PIBs dos quatro principais países emergentes, a China (US$ 44,4 trilhões), Índia (US$ 27,8 trilhões), Brasil (US$ 6,1 trilhões) e Rússia (US$ 5,9 trilhões) que devem superar economicamente os PIBs do Grupo dos Seis (G6), ou seja, os EUA (US$ 35,2 trilhões), Japão (US$ 6,7 trilhões), Reino Unido (US$ 3,8 trilhões), Alemanha (US$ 3,6 trilhões), França (US$ 3,1 trilhões) e Itália (US$ 2,0 trilhões) em 2050, segundo as projeções econômicas do Goldman Sachs em 1 de outubro de 2003.

A projeção econômica do BRIC (US$ 84,2 trilhões) superior ao G6 (US$ 54,4 trilhões) é baseada na análise demográfica, na grande extensão territorial, na acumulação de capital, no crescimento da produtividade e no mercado interno com enorme potencial de crescimento de cada país emergente. E esses quatro países emergentes deverão liderar a economia mundial, se cumprirem todas as reformas necessárias até 2050.

Na atualidade, no PIB nominal, a preços correntes, considerando a metodologia usada no Austin Rating, os dez países mais ricos do planeta, no primeiro trimestre de 2022, foram os EUA (US$ 25,346 trilhões), China (US$ 19,911 trilhões), Japão (US$ 4,912 trilhões), Alemanha (US$ 4,256 trilhões), Índia (US$ 3,534 trilhões), Reino Unido (US$ 3,376 trilhões), França (US$ 2,936 trilhões), Canadá (US$ 2,221 trilhões), Itália (US$ 2,058 trilhões) e Brasil (US$ 1,833 trilhão).

É preciso lembrar que BRIC é um acrônimo em inglês de Brazil, Russia, India and China e oriundo do economista britânico Jim O’Neill no artigo Building Better Global Economic BRICs, de 30 de novembro de 2001. Quase oito anos depois, em 16 de junho de 2009, os líderes de quatro países emergentes formaram oficialmente o grupo econômico na Primeira Cúpula do BRIC, em Ecaterimburgo, na Rússia. Quase dois anos depois, a África do Sul aderiu formalmente ao grupo em 14 de abril de 2011, que foi atualizado para o BRICS.

Mais de três anos depois, em 15 de julho de 2014, em Fortaleza, surgiu o New Development Bank (NDB), um banco para promover uma maior cooperação financeira e de desenvolvimento entre os cinco países permanentes do BRICS. E a sede do NDB é na cidade chinesa de Xangai, cujo atual presidente do NDB é o economista brasileiro Marcos Troyjo, desde julho de 2020 e já em 2021 se expandiu com a adesão de três países sócios, o Uruguai, Bangladesh e Emirados Árabes Unidos (EAU). E as moedas do BRICS são o real, rublo, rúpia, renminbi e rand.

A China é o maior parceiro comercial da Argentina desde 2021, superando o vizinho Brasil e a China encontra-se na presidência rotativa do BRICS em 2022 e o líder chinês Xi Jinping já inseriu a Argentina (43,8% da população argentina vivendo abaixo da linha de pobreza e a taxa anual de inflação já alcançando 60%) na Nova Rota da Seda, “que permitirá ao país ter financiamento de mais de 23 bilhões de dólares para diversos projetos” (BRASIL247, 2022).

É preciso ressaltar que a China é a maior potência econômica da Ásia. A Rússia é o maior exportador mundial de gás natural, o 2º maior exportador global de petróleo e a maior potência econômica da Europa Oriental. A Índia é uma das maiores potências econômicas do Sudeste Asiático e a África do Sul da África. E o Brasil é a maior potência econômica da América Latina e da América do Sul, com participação de 50,12% do PIB sul-americano em 2021 (BANCO MUNDIAL, 2022).

É importante destacar que o BRICS Plus é composto pelos líderes da Argélia, Argentina (na presidência rotativa da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos – CELAC), Camboja (na presidência rotativa da Associação de Nações do Sudeste Asiático – ASEAN), Cazaquistão, Egito, Etiópia, Fiji, Indonésia (na presidência rotativa do G20), Irã, Malásia, Senegal (na presidência rotativa da União Africana – UA), Tailândia (na presidência rotativa da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico – APEC) e Uzbequistão (na presidência rotativa da Organização para Cooperação de Xangai – OCX) e que participaram da reunião virtual entre 18 países emergentes, em Pequim.

A estúpida Guerra na Ucrânia provoca severos impactos sociais e econômicos na Europa e no mundo, além de momentos tensos entre a Rússia (o maior arsenal nuclear do planeta) e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), formada por 30 países membros, mas, com o recente protocolo de adesão da Finlândia e Suécia, em breve, serão 32 países na OTAN. E a Guerra na Ucrânia aumentou o preço do barril de petróleo tipo Brent para US$ 139,13 em 7 de março de 2022 e foi a maior cotação desde 2013. Com o temor de uma recessão econômica mundial em 2023 e o avanço desenfreado da inflação já provocaram a queda do preço do barril de petróleo para US$ 100,69 em 06 de julho. Mas, a volatilidade nos preços internacionais é grande e a previsão é uma recessão econômica de 10,0% na Rússia em 2022 (OCDE, 2022).

Em suma, é importante observar o papel do Brasil nos rumos do BRICS, pois o Brasil é um dos principais países produtores e exportadores de alimentos do planeta e o 9º maior produtor de petróleo do mundo. Portanto, as novas articulações intra-BRICS, o multiletarismo e a integração econômica do BRICS ou do futuro BRIICSA serão fundamentais para promover o crescimento dos PIBs brasileiro e mundial.

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