João Pessoa, 12 de julho de 2022 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Um médico meteu a cara na rede social. Mandou uma reclamação. Um desabafo. Um protesto. Não! acho que um lamento. Desses vídeos que têm nome, endereço e, nesse caso, CRM. Foi o Dr. Ronaldo Rangel. Doutor. Professor. Estudioso. Tantas vezes homenageado pelos seus formandos. Palavra de médico. A gente precisa ouvir o Dr. Ronaldo.
Apresentou-se. Disse, comedido, que integra a elite médica do nosso país. Mostrou o professor e enalteceu o estudioso. Para se vangloriar de alguma coisa? Não. Para se promover? Não. O Dr. Ronaldo não precisa de promoção. Já as tem todas.
Fala de uma paciente que acabou de perder. Fala para nós. Fala para Sinúbia e sua doçura. Diagnóstico: Hipertensão arterial pulmonar. Uma doença grave de mal prognóstico. Pelos milagres da ciência, o tratamento prolonga a vida dessas pessoas em muitos anos. Se tinha sobrevida de cinco, em outros tempos, já tinha dez anos de tratamento.
Poderia estar satisfeito. O Dr. Ronaldo? Não. Sinúbia pereceu sem tomar um dos três medicamentos de uso contínuo, que lhe garantiam, juntamente com o amor de seu médico, continuar vivendo. Continuar tentando se aposentar, o que não conseguiu. Continuar… Com o direito de tomar suas medicações, de sua vida.
Como se fôssemos filhas e filhos de uma cidadania que nos submetesse a um único destino. Morrer sem que a ciência possa nos ajudar, mesmo sabendo como fazê-lo. Sofrer sem a assistência devida, mesmo que sabidamente se saiba que ela existe. Padecer com pouco ar, sem que se ambram janelas para a respiração, apesar do médico tentar uma ventilação heroica.
O Dr. Ronaldo não sofreu só por empatia. Frente ao inacreditável que via, desandou na compaixão, num sofrimento lícito. Em nome da pessoa que tratava, sentiu o desconforto. O infortúnio em sua carne. Poucas vezes, vi um médico chorar assim. E me emociono sempre que vejo.
E quando vejo, também sofro junto, porque traduzo como se as lágrimas fossem o último grito pela saúde pública, como se nada mais houvesse que enxergar, e a sorte dos doentes se perdesse num infortunado tempo de distâncias. Tudo chegando ao fim. É assim que vejo, quando um médico chora.
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OPINIÃO - 22/11/2024