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Zico, o eterno “Galinho” ganha livro com imagens de todos os gols que fez

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publicado em 17/07/2022 ás 12h03
atualizado em 17/07/2022 ás 18h16

Kubitschek Pinheiro MaisPB

“A História de Todos os Gols de Zico” (Editora Tinta Negra, com 280 páginas), dos autores rubro-negros Bruno Lucena, Marcelo Abinader e Mário Helvécio, é um verdadeiro retrato da memória do jogador em campo. Todos os gols foram catalogados desde as categorias de base. São 804 gols, sendo 690 como jogador profissional. Há informações sobre cada um deles, detalhadas.

É um livro que faz gol por si só, uma obra para colecionadores, lançada recentemente. Bruno Lucena, coordenador do Patrimônio Histórico do Flamengo, co-autor, faleceu antes do lançamento, em fevereiro de 2021, após sofrer um infarto.

Num trabalho de fôlego pelas intensas pesquisas nacionais e internacionais, os autores contam a performance de Arthur Antunes Coimbra, o Zico, com o futebol e cada gol marcado pelo “Galinho de Quintino”. O livro enumera os gols feitos na escolinha, no juvenil e no profissional, com datas, locais e adversários mencionados em ordem cronológica.

Das peladas de rua ao título de um dos maiores artilheiros da história do Brasil e um dos maiores símbolos do futebol mundial, o craque que marcou gerações tem sua carreira relembrada.

Zico, do Flamengo, comemorando gol contra o Botafogo, pela Campeonato Carioca, no Maracanã. 1989.

Cada capítulo é um ano da história da vida profissional do jogador e, para o deleite do leitor, além da relação de gols, os autores apresentam também, estatísticas, rankings, curiosidades, etc.

Na parte final, o livro enumera uma série de estatísticas e recordes. Dá para saber quais goleiros tomaram mais gols dele, ou descobrir que Zico é o maior artilheiro da história do Maracanã, com 335 gols marcados no estádio mais famoso do mundo.

Na coletiva de lançamento, um repórter perguntou a Zico “Uma vez você disse que nasceu para fazer gols e para dar passo para os outros fazerem. Esse livro tem 300 páginas, quantas páginas teria se você lembrasse dos gols que você fez os outros fazerem? “Acho que teria o dobro…”.

Conheça os autores

Bruno Lucena (in memoriam) praticamente vivia para as estatísticas do Flamengo. Detalhista ao extremo, foi responsável pela valorização e reconhecimento de ex-atletas rubro-negros, principalmente no futebol, trazendo-os de volta à Gávea e ao clube. Bruno convidou Mário Helvécio e Marcelo Abinader para o projeto do livro.

Marcelo Abinader, outro rubro-negro, mestre em pesquisas estatísticas de todos os jogos da história do Fla­mengo e autor de um importante livro sobre o tema.

Mário Helvécio, funcionário do Conselho Fiscal do Flamengo, outro que nutria uma paixão comum por fatos históricos referentes ao Flamen­go.

O MaisPB conversou com Mário Helvécio e Marcelo Abinader, que trazem todos os gols de Zico na ponta do lápis. Confere aqui fotos que estão no livro.

MaisPB – Como vocês combinaram a feitura dos textos?

Mário Helvécio – No início do projeto, eu e o Bruno nos encontrávamos na Biblioteca Nacional, dividimos as pesquisas por períodos, pegamos 3 ou 4 textos de jornais diferentes e tentamos chegar a um lugar comum. Com a entrada do Marcelo no Projeto, ele ajudou com sua experiência nas pesquisas e foi fundamental na questão de “romancear” o texto e aí o Bruno se dedicou às estatísticas.

MaisPB – A gente percebe que mesmo sendo um livro cujo tema é bem específico, vocês conseguiram se superar, já que os textos se casam com as fotos às vezes em tons romanescos. Estou certo?

Mário Helvécio – Sim, está certo. Foi uma preocupação nossa. Desde o início fazíamos questão desta coerência.

MaisPB – Entre tantos gols tem uns bem marcantes? Poderia lembrar de dois?

Mário Helvécio – Ah dois gols que sempre mexeram comigo, é o gol de falta, o segundo contra o Cobreloa-CHI pela final da Libertadores 1981 e o gol do empate contra o Grêmio, pela primeira partida decisiva do Brasileirão 1982, no Maracanã. Mas é preciso que se diga que eu tenho pelo menos 120 gols marcantes de Zico na minha vida.

MaisPB – Quanto tempo durou a pesquisa? Tiveram dificuldades?

Mário Helvécio – O trabalho total de pesquisa durou cerca de 3 anos. Dificuldades? Inúmeras. Primeiro pela discrepância de informações de um jornal para o outro, de um mesmo lance. Em alguns casos foi bastante difícil chegar a um lugar comum. Outra dificuldade é que os gols do início da carreira de Zico entre 1968 e 1971, por exemplo, simplesmente não se acha registro algum, não havia cobertura da mídia esportiva como acontece hoje. Nesta questão contamos com a ajuda total e irrestrita do próprio Zico. A memória dele é um negócio impressionante.

MaisPB – Zico encerrou sua carreira em 1994 – praticamente cedo – com um total de 804 gols de toda a carreira. Poderia ter feito mais?

Mário Helvécio – Eu acredito que se não fosse a contusão do joelho e às lesões subsequentes, que não só o deixou muito tempo fora dos gramados, como também fez o Zico recuar seu jogo, ficando mais distante do gol, ele teria ultrapassado, com certeza, os 1000 gols. Não tenho dúvidas disso.

MaisPB – Vocês chamaram Edu Coimbra, irmão de Zico, que fez o texto de apresentação e outras pessoas também. São textos valiosos. Você poderia destacar esse conteúdo?

Mário Helvécio – Ah não havia outra pessoa que não fosse o Edu, que tenha testemunhado o “surgimento”, o desabrochar do menino Zico. Edu foi também um belíssimo jogador, que brilhou no America-RJ (e teve breve passagem também pelo Flamengo em 1976) e tem total condição de falar sobre o Galinho Zico.

MaisPB – Tem outras obras lançadas ?

Mário Helvécio – Obra minha, não. No período que eu trabalhei com o Bruno Lucena no Patrimônio Histórico do Flamengo, participei da “vistoria” de algumas obras chanceladas pelo Flamengo, como também correções de fatos históricos. O Marcelo já tem outras obras, principalmente, dedicadas ao Flamengo.

MaisPB – Ficou faltando alguma coisa nesse livro, sem a presença hoje de Bruno Lucena?

Mário Helvécio – A nível histórico, de conteúdo, não ficou faltando nada, já que o Bruno havia concluído suas pesquisas e suas estatísticas mais de um ano antes de nos deixar. O que ficou faltando mesmo foi a satisfação, a alegria de dividir com ele, o “livro” em si, ele merecia ter vivido a emoção dos dias que antecederam o lançamento e principalmente, o dia do lançamento do livro, propriamente dito. Foi a maior noite da minha vida, acho que do Marcelo também e tenho certeza, que seria a do Bruno Lucena também. Sinto muita falta dele, era um grande amigo.

Marcelo Abinader

MaisPB – O livro é muito bonito, coisa de colecionador. Como veio a ideia de fazê-lo apenas com os gols de Zico?

Marcelo Abinader – Foi uma ideia que veio após conversa entre os autores. queríamos fazer um livro inédito, uma vez que já foram escritos muitos livros sobre Zico e outros jogadores, mas nunca com essa temática.MaisPB – A ideia do livro veio da editora?

Marcelo Abinader – Não. Veio da cabeça dos autores. Nem tínhamos editora então.

MaisPB – Na história de todos os gols de Zico, a gente percebe a longa saga do personagem em campo. Você sentiu isso durante a pesquisa?

Marcelo Abinader – Essa foi a ideia mesmo. Fazer do livro mais do que apenas um registro dos gols e suas narrações. Fazer uma história real sobre um personagem único. Bom saber que você notou isso.

MaisPB – Onde vocês conseguiram tantas fotos?

Marcelo Abinader – As fontes foram diversas e o Mário Helvécio foi o maior responsável por elas, com alguma ajuda do Bruno e minha.

MaisPB – Você lembra da reação de Zico quando foi comunicado que o livro estava sendo feito? Ele esteve no lançamento? Poderia falar sobre essas questões?

Marcelo Abinader – Sim, claro! Como esquecer? Ele ficou muito empolgado e concordou imediatamente em colaborar. Sim, ele esteve no lançamento e deu autógrafos e bateu fotos por cerca de quatro horas junto conosco. Foi impressionante ver sua paciência, carinho e atenção para com todos.

MaisPB – Diz aí pra gente, você viu muitos desses gols ao vivo, né?

Marcelo Abinader – Arrisco-me a dizer que estive no Maracanã na imensa maioria daqueles gols lá marcados. E também vi alguns em outros estádios. Tenho a sorte de ser cerca de 10 anos mais novo que o Zico. Isto quer dizer que quando eu comecei a entender futebol, Zico começou sua carreira e eu pude acompanhá-la por inteiro.

MaisPB – Hoje em dia os jogadores de futebol penduram tarde as chuteiras. Não foi o caso do Zico, né?

Marcelo Abinader – Infelizmente uma entrada criminosa em seu joelho em 1985 abreviou a capacidade física do galinho. Mesmo assim, ele enfrentou diversas cirurgias e incontáveis sessões de fisioterapia e outros tratamentos para ainda nos brindar por bastantes anos.

MaisPB – Como você define o artilheiro Zico?

Marcelo Abinader – Zico era um jogador absolutamente completo. Era bom em chutes com as duas pernas, em cabeçadas, tinha um senso de posicionamento impressionante e uma capacidade de olhar o campo todo em um relance, fazer lançamentos preciosamente certos e foi, sem sombra de dúvidas, um dos melhores cobradores de faltas e pênaltis do mundo. Não posso esquecer de sua incrível habilidade para o drible e de seu raciocínio rápido. era único. Era Zico!

MaisPB – Vamos falar de Bruno Lucena, coautor do livro que não está mais entre nós?

Marcelo Abinader – Bruno foi o primeiro a vir com a ideia do livro, logo abraçada pelo marinho e por mim. foi uma pessoa totalmente dedicada ao flamengo e à estatística. é realmente uma pena que ele não tenha visto seu sonho se tornar realidade. marinho e eu persistimos contra muitos fatores para conseguir publicar o livro, também como uma forma de tributo a ele.