João Pessoa, 21 de julho de 2022 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Dizem que amizade sincera é melhor do que sexo. Há controvérsias. Tem gente que vive sem os dois. São felizes? Não sei. Há quem diga que amizade desinteressada, pura, sem cobranças, é como um bom casamento sem sexo. Embora tem gente que prefere perder um amigo do que deixar de emplacar uma piada. Isso às vezes não tem a menor a graça, com as vênias do trocadilho. Mas de humor e piada quem entendia mesmo era a turma amiga fundadora do tabloide mais irreverente e original do Brasil: o Pasquim.
Quem batizou o semanário foi o cartunista Jaguar. Ele conta que Sérgio Cabral apareceu com uma lista de uns oitenta nomes para denominar o novo jornal, quando ele disse vamos chamá-lo de pasquim, porque só assim a gente já corta o barato dos opositores e críticos que dirão “esse jornaleco é um pasquim!”. Mas a história do Pasquim é longa e merece um texto à parte.
Tarso de Castro (1941-1991), gaúcho de Passo Fundo migrou para o Rio de Janeiro e lá se destacou como jornalista e um dos fundadores do Pasquim, além de ter feito grandes amizades com gente da imprensa, da música, da cultura, da sociedade e muito querido pelas mulheres. Vinícius, Tom Jobim, Chico Buarque e Caetano Veloso eram amigos de Tarso. Certa feita, conta Caetano que foi surpreendido por um beijo de boca tascado pelo jornalista na porta do hotel e ainda rolaram pelo chão, só para sacanear os machões presentes. Bebia demais e o álcool lhe deixou uma cirrose hepática, que foi a causa de sua morte.
Conta ainda Jaguar, que bebia em um bar de Ipanema, cujo nome não recorda, em companhia de Millôr Fernandes e uma moça, quando chega Chico Buarque e pergunta a Millôr o que ele tinha conta Tarso. Sem obter resposta, o compositor cospe no rosto do humorista que, por sua vez, arremessa em Chico, copos, pratos e facas que estavam sobre a mesa. Erra o artista e acerta o garçom. Chico retorna e cospe outra vez na cara de Millôr, que mais irado não consegue atingi-lo com os objetos restante na mesa. O gesto extremo do compositor carioca era a prova de sua amizade fiel com Tarso de Castro, que achava Millôr um mau caráter.
Sem citar nomes, Jaguar descreve o ocorrido e diz que “um grande compositor cuspiu na cara de um grande humorista”. Foi o suficiente para a boemia carioca especular: alguns apostavam que Martinho da Vila tinha cuspido em Jaguar; outros que Tom Jobim lançara perdigoto em Ziraldo, e assim por diante.
Ninguém acreditava que o bom-mocismo de Chico Buarque fosse capaz de agredir a genialidade de Millôr Fernandes. Foi a tomada de dor de uma amizade sincera que provocou a refrega entre dois gênios brasileiros.
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