João Pessoa, 22 de julho de 2022 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Se uma convidada chegasse em um programa televisivo sobre literatura e cozinhasse uma omelete, os estranhamentos seriam muitos. Primeiro, porque mal existem programas sobre cultura na TV aberta. Segundo, porque fugiria do formato proposto.
Foi isso que fez a lenda da culinária americana, Julia Child, ao aparecer no programa de um professor de Boston. Ou, ao menos, é o que a série Julia, da HBO MAX, mostra que aconteceu. O pedantismo intelectual do apresentador não impediu o brilho de Julia, que havia publicado sua primeira obra. À época, era best seller com o livro Dominando a Arte da Culinária Francesa, cuja autoria dividia com duas amigas. Esposa de diplomata, Julia viveu na Europa por muitos anos e decidiu fazer de Paris uma festa na cozinha dos americanos.
Se Child abriu caminhos para todos os devotos do bom tempero, sua editora literária provocou revoluções para os devotos dos bons textos. O espaço que a gastronomia ocupa no mercado editorial brasileiro, com o livro de receitas de Dona Benta ou os múltiplos manuais de Rita Lobo, deve gratidão à editora Judith Jones.
Os modos de preparo de Child não foram os únicos textos que cativaram Judith, arrebatada também pelos registros de uma adolescente judia durante o Holocausto. Sensibilizada com o Diário de Anne Frank, Jones decidiu publicá-lo e tornou-se responsável por fazer a obra conhecida nas Américas. A parceria com Child em nada diminui seu status de intelectual. Versátil e brilhante, editava tanto receitas de boeuf bourguignon quanto romances de Camus, Sartre e Updike. Além da sua família, Judith Jones cultivou duas grandes paixões: a literatura e a gastronomia. Fez com que suas paixões chegassem às estantes e às mesas de muitos lares.
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OPINIÃO - 22/11/2024