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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

É preciso Drummond

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publicado em 23/07/2022 às 09h13
atualizado em 23/07/2022 às 13h27

Falamos, lemos, amamos Carlos Drummond de Andrade e lembramo-nos imediatamente de nós mesmos. Pensamos em José, o José da canção Domingo no Parque de Gilberto Gil, mas tem o João, o rei da confusão, um que trabalhava na feira, José, outro na construção, João. E agora, José?

Drummond e Gilberto Gil falam das coisas da vida da gente em seus versos e canções.  E não faz sentido o poema que repito, que insisto, pois, se é pra cumprir destinos, basta continuar lendo o que está escrito. Poetas para quê? Ah, lembrei de Adriana Calcanhotto – Depois de ter você, Poetas para quê?

Drummond escreveu o poema Quadrilha em 1930, dizendo que “João amava Teresa que amava Raimundo, que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém”. Só Lili se deu bem. Não amar ninguém é ignorado, porque amar deixa de ser verbo, quando estamos apaixonados.

Tá tudo tão claro, Quadrilha de Drummond é uma célebre composição que fala sobre as dificuldades e os desencontros do sentimento amoroso, mas se por 30 dinheiros, se forma cada dia mais uma quadrilha, no Brasil, mil, mil, mil.

É curioso o fato de ter o título Quadrilha. Se dançamos ou conforme a música, é curioso é que num ano de eleição, com João, José, ninguém é Sebastião, ninguém faz milagre, ninguém quer casar com a pobre Florbela, que não aparece na história.

O Poema da Necessidade de Drummond, da necessidade dele, convida a gente para salvar o país. Por um triz?

É preciso casar João, é preciso suportar Antônio, é preciso odiar Melquíades é preciso substituir nós todos. É preciso salvar o país, é preciso crer em Deus, é preciso pagar as dívidas, é preciso comprar um rádio, é preciso esquecer fulana.

Dizem que Drummond tinha uma amante que se chamava Fulana, que morava em Copacabana e era super bacana. Quem amou, viveu.

Tom Jobim recita o Poema da Necessidade, ao som de Villa Lobos que acaba com o fim do mundo: “é preciso ter mãos pálidas para anunciar o fim do mundo. Jobim rir no final e diz: “de novo?” Lembrei do Samba de Maria Luiza, quando a filha dele fala no final da gravação – de novo e pai avisa: “não fala que grava”.

Antônio eterno Jobim, se todos vocês iguais a Drummond.

Angela Bezerra empolgada com o K recitando os poemas de Drummond, avisou, leia o poema Campo de Flores

Deus me deu um amor porque o mereci

De tantos que já tive ou tiveram em mim

A professora Zarinha, lá de Berlim, disse: “estou adorando você recitar Drummond da maneira correta. Recite O Caso do Vestido e A morte do Leiteiro.

Nossa mãe, o que é aquele
vestido, naquele prego?

Minhas filhas, é o vestido
de uma dona que passou

—–

Há no país uma legenda,
que ladrão se mata com tiro.
Então o moço que é leiteiro
de madrugada com sua lata
sai correndo e distribuindo
leite bom para gente ruim.

Drummond é o profeta de nossas metas e pedras, com seixos, que  se espalham por toda cidade, mas não ficará pedra sobre pedra.

Kapetadas

1 – “Quem precisa de alguém para gozar é comediante” – grita o onanista na calçada do passado.

2 – Suicídio, assédio, desmandos, autoritarismo. Vem pra Caixa você também! Eu não.

3 – Som na caixa: “Carlos amava Dora que amava Lia que amava Léa que amava Paulo, que amava Juca que amava Dora que amava Carlos amava Dora que amava Rita que amava Dito, que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava Carlos amava Dora que amava Pedro que amava tanto que amava a filha que amava Carlos que amava Dora que amava toda a quadrilha”, Chico Buarque de Holanda.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB