João Pessoa, 29 de julho de 2022 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Gritar “UNO” não tem tanta graça quanto lançar uma fichinha redonda e colorida sobre a mesa, durante um jogo de Perfil, e gritar “um palpite a qualquer hora”. Além de conquistar o avanço de algumas casas no jogo, fomenta a discórdia, por roubar a vez de quem poderia desvendar o mistério da carta. Para quem nunca se rendeu ao tabuleiro, as regras são claras: a cada rodada, um jogador seleciona uma carta e os demais solicitam dicas para adivinhar qual é a personalidade, o ano ou o objeto ao qual à carta se refere. Quanto menos dicas, mais pontos.
Mesmo assumindo a derrota em quase todos os esportes que já tentei, jogar Perfil aguça meu instinto competitivo. Em uma mesa grande, com muitos jogadores, a diversão se confunde com as desavenças, porque a vontade de vencer é capaz de podar as arestas éticas dos mais honestos cidadãos. Jogando, mantenho a decência, mesmo que a indignação também me atravesse. Geralmente, porém, brinco com a tranquilidade de quem já acumulou alguma cultura inútil.
Basta uma dica para virar o jogo. Meu nome é Patrícia Rehder Galvão? Pagu! (foto) Consta na ótima biografia dela, escrita por Augusto de Campos. Sou um rock star e participei da franquia Piratas do Caribe? Keith Richards, cuja vida é uma sucessão de fatos tão mais bizarros, narrados em seu livro de memórias, que tornariam outras dicas impróprias. Comecei a carreira contando piada no Programa do Jô? Fábio Porchat, claro. Em O Livro de Jô, uma série de causos maravilhosos é compartilhada enquanto Jô Soares ressignifica sua própria vida.
Nem sempre as dicas são suficientes. Otto Lara Resende, em uma de suas crônicas, diz que sua cultura é um queijo suíço, cheia de buracos. Nem com muita disposição eu conseguiria ler tantas biografias para gabaritar o jogo, fazendo com que minha cultura vire um queijo lisinho, como o parmesão. Nossa sorte é que é uma delícia – tanto sempre ter algo para descobrir quanto os queijos suíços.
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OPINIÃO - 22/11/2024