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Ana Karla Lucena  é bacharela em Direito pela Universidade Estadual da Paraíba. Servidora Pública no Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba. Mãe. Mulher. Observadora da vida.

Uma volta ao passado

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publicado em 01/07/2022 ás 07h00
atualizado em 31/07/2022 ás 21h02

Aquela receita de bolo que herdamos da avó que já partiu. O conselho recebido de um tio sábio que até hoje nos ajuda a tomar decisões. A música inefável escrita numa partitura amarelada, envelhecida pelo tempo. A poesia, a arte, a arquitetura, os ensinamentos dos grandes pensadores do passado. Legado. Tesouros incalculáveis que estão à nossa disposição de forma atemporal.

Dedicamos a maior parte da nossa vida a esse caos contemporâneo, essa aldeia global onde todos estão tão longe e tão perto ao mesmo tempo. Tornamo-nos dependentes dessa interação virtual que pouco ou nada agrega ao nosso espírito. Sentimos uma necessidade desesperada de saber sobre o outro, os lugares que frequenta, a música que ouve, a comida que come, a última viagem, a roupa que veste. Preocupados se o cidadão vai pagar a conta da namorada no restaurante e fazer disto o assunto mais comentado do nosso dia. Daí uma pergunta que pode parecer soberba, infame, mas inevitável: como a  humanidade se tornou tão medíocre? Viramos escravos deste tempo presente, onde o marketing comportamental dita nossas ações e pensamentos.

Temos a oportunidade todos os dias de tomar um café com Sócrates, de ter longas conversas com Aristóteles, pedir conselhos a Santo Agostinho. Sim, grandes homens do passado que deram suas vidas ao estudo, ao ensino, ao trabalho de nos tornar uma grande comunidade humana que transporia o poder do tempo. Temos alimento deixado por pessoas que viviam de forma intensa e profunda à procura de soluções e respostas para nossas questões humanas. Alimento para a alma. Mas não usufruímos disto.

Como perdemos tempo! E como não percebemos que estamos perdendo o que temos de mais valioso! Me recuso a viver só no presente. É raso demais para a caverna profunda na qual minha alma mora. Voltarei ao passado quantas vezes forem necessárias para fazer o meu presente mais significativo. Vou começar testando a receita do bolo de batata doce da minha avó. E o comerei acompanhado de uma xícara de café, tendo uma boa conversa com um amigo. Um amigo que talvez possa não estar mais entre nós nessa vida material, mas alguém com quem eu, com certeza, terei a oportunidade de evoluir.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB