João Pessoa, 08 de agosto de 2022 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Sempre me identifiquei bastante com os textos e frases de Cora Coralina.
Ela era Ana, como eu. Mulher, como eu.
Sempre teve o espírito inquieto, começou a escrever muito jovem, mas, a vida do lar e os filhos a fizeram tomar outros rumos, assim como tantas outras mulheres da sua época.
Quando, então, aos 50 anos, ela relata ter passado por uma profunda transformação interior a qual ela chamava de “a perda do medo”, ela, então, adotou o pseudônimo Cora e ninguém mais a parou.
Escrevia com simplicidade sobre tudo que via à sua volta. Não tinha habilidades gramaticais e a sua obra é caracterizada pela priorização do conteúdo, ao invés da forma. E que conteúdo!
Aquela Ana queria entender o mundo ao seu redor e o seu papel nele. Talvez reconhecendo-se como ser humano inacabado, em busca de sua missão de vida. Em ânsia pela evolução tão necessária e tão perseguida por nós.
Em um dos meus poemas favoritos, escrito por ela, ela diz: “Recria tua vida, sempre, sempre. Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.” Ela fala de resiliência, da capacidade de se reinventar, se reerguer, começar e começar quantas vezes forem necessárias. De remover do terreno o que impede que as rosas nasçam. E de, apesar de tudo, não perder o doce da vida. Mas também fala de decisão. De atitude. De bravura.
Uma Ana que deixou um legado que vai além da literatura. Um exemplo para muitas mulheres que, como ela, tiveram que se reinventar, após anos e anos vivendo estaticamente. Deixou-nos a lição de que o ser, o sentir, o amar, o simples, o modesto, o aparentemente ínfimo, são os pequenos detalhes que fazem-nos ser quem somos.
Esta Ana aqui, esta mulher, quer seguir os seus conselhos, Dona Cora! Obrigada!
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NOVA VAGA - 17/12/2024