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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Caetano, o grande show

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publicado em 09/08/2022 ás 09h41
atualizado em 09/08/2022 ás 14h25

 

    Sonho e desejo. O ‘Especial Caetano Veloso 80 anos’, o grande show, seguiu o itinerário de uma combinação dos clássicos, em tributo a uma carreira que já se estende por mais de cinco décadas, com as faixas que o aniversariante considerou pertinentes para o momento. O cenário. – a imagem do 8 e um zero (80), um desenho igual um móbile, que colocamos nos quartos dos nossos bebês, iluminava a todos, o aniversariante e convidados.

    O som, sua voz, a bela poesia, em dimensões definidas se refletiam entre nós e de nós, no palco do Teatro Cidade das Artes, na Barra da Tijuca com Caetano Veloso e os filhos Moreno, Zeca e Tom Veloso e a irmã Maria Bethânia. Como era domingo, vestimos as roupas de domingo.

     Quando as cortinas abriram o quarteto já estava sentado com seus instrumentos e veio de imediato o alarido do público, mil e 200 pessoas na plateia, uma profusão de felicidades.

     Tudo apurava os sentidos quando ele começou a cantar “Como dois e dois”, de 1971, que Roberto Carlos gravou no mesmo ano, seguido de “Onde o Rio é Mais Baiano” (que Caetano gravou no disco “Livro” de 1997) falando dessa relação amorosa  entre a Bahia e o Rio) uma sensação íntima, mas aberta, que valia por tudo quanto fosse sagrado. Os irmãos Bob e Irene estavam na primeira fila. Gilberto Gil e família também, sentados ao lado de Nelson Motta. Nunca vi tantos artistas numa noite só.

    Apenas “Meu Coco”, do disco novo de mesmo nome, a terceira canção do show e mais nenhuma do disco. Disparou geral as Luanas, Simone e Raimundas, já buscando o bis de Tieta, que todo mundo cantou junto e ele pedia: “mais uma vez, só vocês”.

         Você é Linda”…linda sim (de 1983, que serviu como tema de abertura da novela “Belíssima” em 2005) , seguida de “Deusa do Amor” cantada só por Moreno, mas com a voz do pai no refrão. Caetano disse que essa música, do Olodum, havia se juntado ao repertório do filho, como se fosse dele e que com ele, aconteceu também e começou a cantar “Sozinho” de Peninha.

         Ele canta e conta a história da canção Maria Bethânia, de Capiba, que ouvia quando era garoto e nos levou para longe dali, na tradução mais perfeita, da importância da chegada da irmã dele, Maria Bethânia na família Veloso, a quem ele deu o nome. E canta logo em seguida a canção dele Maria Bethânia, (Everybody knows that our cities were built to be destroyed ...) do disco gravado em Londes, em 1971.  Nessa horinha de descuido, uma cortina se abre atrás do palco e  Maria Bethânia surge e quem disse que o público queria  parar de aplaudir fortemente.  Com sua incontestável presença os dois começam a cantar “Minha mãe, meu pai meu povo, eis aqui tudo de novo” (Tudo de Novo, de 1978, do show com ela) Os aplausos não paravam. Ela toda de branco, singular e abrangente. 

         A partir desse momento cantaram juntos “Reconvexo”, “Sopro do Fole” ( do filho Zeca) ela e o sobrinho Zeca Veloso cantam juntos a música. E veio Motriz, (1983)  gravada por ela no Álbum Ciclo – Maria Bethânia). Aliás, quando ela começa cantar Motriz, parecia a primeira vez, uma canção que  alterna lirismo, com saudade junto a uma força  que os mantém no topo, dois grandes artistas brasileiros.

          Como não podia faltar, Bethânia declama versos belos, uma compilação com  trechos de “A Forma Justa” da poetisa portuguersa Sophia de Mello Breyner . “Sei que seria possível construir o mundo justo/As cidades poderiam ser claras e lavadas/Pelo canto dos espaços e das fontes/O céu o mar e a terra estão prontos/ A saciar a nossa fome do terrestre”. 

         Cheia de afetos ela não tirava o olho do irmão, observando e agradecendo. Ela disse que estava feliz, que a família  estava feliz,  com  o fervor de todas as vezes que ela pisa num palco.

         Tudo milimetrado organizado. Chegou a vez  de Caetano homenagear Gilberto Gil, Milton Nascimento e Paulinho da Viola, que são oitentões neste 2022. Começou por Gil, cantando “O Seu amor”, emendou em “A Terceira Margem do Rio”, dele e Milton Nascimento e fecha cantando: “Tá legal, eu aceito o argumento, mas não altere o samba tanto assim”, de Paulinho da Viola. A 18ª canção “Falta”, de Tom Veloso, ele canta sozinho. O pai disse que chora ouvindo. 

         Bem antes, a plateia cantou parabéns fortemente e  noutro momento a família de Gilberto Gil cantou: “parabéns,  parabéns, pelo seu aniversário…” Aquela canção do parabéns para o Carequinha. 

        Caetano cantou “Sete Mil Vezes”, “Irene”, “Terra”, quando a irmã Maria Bethânia já estava de volta ao palco e cantam juntos “Milagres do Povo”. Em seguida, Moreno canta “Donzela” uma canção dele e o pai e a irmã chegam até perto da plateia e dançam juntos, com Moreno. E veio o bis, “Luz de Tieta”, que ele adora cantar com a plateia.

         Tudo neles é genuíno, tudo ganha um tom, ao preencher espaços de luz, cultura, sempre com muita ênfase e como eles são potentes, capazes de exprimir as suas sensações poéticas, sobre todos nós.

Fotos Sarah Mirella e Thereza Eugênia

Agradecimentos

Paula Lavigne, Caetano Veloso e Cláudia Alencar. Abraços carinhosos para os amigos Caelovers: Alexandre Leite, Alan Brandão, Heloysa Ayres, Iramar Martinez, Anna Heloysa Ludugério, Francisco Taboza, Francisco Cardoso Neto, Pedro Progresso, Guilherme Mazzeo, Klaus Sgnolf, Gabriel Baiano, –  nossa hermana Evangelina Maffei (do site Caetano Veloso …en detalle) e as fotógrafas a quem dou o crédito das imagens Thereza Eugênia e Sarah Mirella

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB