João Pessoa, 12 de agosto de 2022 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
O privilégio de viver mais nos proporciona encontros com o tempo que relatam nossa memória. Estes são realizados através do reconhecimento de obras, fatos, do que dissemos e fizemos, da influência que se teve nas instituições e na vida das pessoas. Quem recorda fatos e acontecimentos tem história para relembrar, até porque o prolongar da vida nos permite este feito. No processo de construção da vida, sem nos apercebermos, vamos edificando através dos atos que exercemos outras vidas onde as ações vão repercutindo e orientando os rumos das pessoas e de seus destinos.
Na semana passada recebi um convite do Programa de Pós-graduação em Enfermagem (PPGENG) para participar, no auditório do Centro de Ciências da Saúde – UFPB, de uma mesa redonda intitulada PPGENG: Trajetórias percorridas e perspectivas para o futuro. O evento teve como propósito estabelecer um encontro do passado com o presente e fazer prospecção para o futuro, ao mesmo tempo promover avaliação do processo evolutivo da pós-graduação da Enfermagem. Os trabalhos foram presididos pela Profª. Dra. Jacira Santos Oliveira. Os conteúdos expostos obedeceram a linha lógica temporal em que se confrontaram o passado e o presente. Dr. Carlos Bezerra de Lima e eu discorremos a história dos primórdios da pós-graduação e a criação do Curso de Mestrado em Enfermagem, com área de concentração em Saúde Pública, contextualizando-o no cenário político, social e educacional.
A pós-graduação em nível nacional recebia toda atenção do MEC/DAU que estabelecia uma política de incentivo à pós-graduação no país, graças a seu diretor Dr. Linaldo Cavalcanti de Albuquerque. Aliado a ela surge a Lei Nº 5540, de 28/11/68, que estruturou pedagógica e administrativamente o ensino de 3º Grau, a Reforma Centrica. As faculdades passam a ser departamentos e estes são agrupados em centros, de acordo com a área especifica do conhecimento. A gestão se fazia de maneira colegiada. Nessa ocasião a Enfermagem integrou-se ao Centro de Ciências da Saúde (CCS). O ensino adota o sistema de crédito.
Fui chefe do Departamento de Enfermagem durante o período de março de 1976 a abril de 1981 – 5 anos. Coincidentemente dirigiu nessa época a UFPB o Prof. Linaldo Cavalcanti de Albuquerque (1976–1980). Neste período priorizou-se a Pós-graduação. Foram implementados 18 Cursos de pós-graduação entre eles o Mestrado de Enfermagem. Objetivavam qualificar o corpo docente e deixar a dependência do sul e sudeste do país. Estas iniciativas eram apoiadas por intercâmbios técnicos, administrativos e científicos, nacionais e internacionais. Destaque-se as docentes de Enfermagem: Aliete Soares da Nóbrega, Enalda Moreira da Silva, Alba Lins Pessoa, Genilda Pereira Martins, Maria José de Araújo Lemos, entre outras. E a secretária administrativa da pós-graduação, Maria Oliveira de Moraes.
O Curso de Metrado em Enfermagem em Saúde Pública (1.605h e 67 créditos), converteu-se numa empreitada de ousadia e arrojado pioneirismo. A estrutura curricular assim dividia-se: núcleo comum, nivelamento e área conexa, área de concentração e outra complementar. As linhas de pesquisas definidas eram: Ensino, Assistência e Administração em Enfermagem. Com o evoluir foram reduzidos os créditos para 37 e 830 horas.
O corpo docente, em princípio, foi composto de docentes visitantes, para atender à exigência da legislação do ensino de Pós-Graduação, sendo utilizadas as estratégias: Convênio com a USP para dar suporte e intercâmbio técnico cientifico; O Depto de Enfermagem contratou professores colaboradores, mestres e doutores da USP, UFERJ, FGV, no esforço para o curso ser bem avaliado e credenciado. O conceito iniciou-se com” E”, em seguida chegamos a “B”. Isto aconteceu na gestão da professora Maria José Lemos, quando o curso foi credenciado, sendo um dos poucos da UFPB na época. Foi celebrado com muita emoção. No abraço dado pela professora Maria José em Mara, secretária, vi as lágrimas correrem em suas faces, como compensadas pela bravura para alcançar esse desiderato. A produção cientifica, ainda incipiente, em sua maioria tratava de estudos epistemológicos, exploratórios e descritivos. Para suas publicações foram criados a Revista do CCS – Ciência, Cultura e Saúde e o Caderno do Mestrado de Enfermagem (semestral). A CAPES e o CNPQ foram se acostumando com nossa insistência e aos poucos nos dando apoio.
As expositoras, professoras doutoras Simone Helena dos Santos Oliveira e Rafaella Queiroga Souto, esta subcoordenadora pedagógica, ambas fizeram a explanação da evolução da pós-graduação na pós-modernidade, onde mudanças foram realizadas na conjuntura e estrutura curricular para atender às exigências do novo tempo. O curso de Doutorado foi implantado em 2010 pela prof.ª Dra. Antônia Leda Oliveira e Silva. Manteve as linhas de pesquisa, ensino, assistência e administração da Enfermagem. Quanto à capacidade instalada do Curso, todos docentes são doutores, o que consolida e ratifica a produção cientifica. Formam vários grupos epistemológicos com interesses diversos e níveis de intervenção, indo do descritivo, explicativo, analítico, de julgamento, até a intervenção na realidade estudada, merecendo o reconhecimento dos órgãos do MEC e CNPq que concederam a nota máxima 5 credenciando e integrando-o a outras instituições superiores de ensino do país. O que deixa o atual corpo docente/administrativo orgulhoso.
A experiência de confrontar a incipiente pós-graduação do passado com a situação presente, permitiu aquilatar o salto qualitativo dado pela Enfermagem e constatar que o denodo permanece vivo nos atuais professores, que viabilizam condições de desenvolvimento na contínua busca pela excelência científica. Parabéns à Coordenadora do PPGENG, Profª Drª Jacira Santos Oliveira, pela iniciativa em promover este encontro. O evento oportunizou a junção das quatro gerações de alunos e professores que vivenciaram esse processo, o que o tornou inusitado pelas lembranças, fatos e recordações emocionantes, onde o passado com o presente reconstroem a história. Sinto-me feliz por fazer parte dela.
Profª. Emérita da UFPB e membro da Academia Feminina de Letras e Artes da Paraíba (AFLAP) ia.
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TURISMO - 19/12/2024