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Clara Velloso Borges é escritora, professora de literatura e mestranda em Estudos Literários pela Universidade Federal de Minas Gerais. E-mail: [email protected]  

Praia dos Ossos

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publicado em 19/08/2022 às 07h00
atualizado em 18/08/2022 às 19h25

Já mencionei nesta coluna o quanto aprecio o trabalho do jornalista Chico Felitti, responsável por uma reportagem emocionante sobre o Fofão da Augusta, por um livro que apura os crimes de João de Deus e por podcasts viciantes. Nas últimas semanas, um de seus podcasts dominou a internet de uma forma inédita. É improvável que você não tenha ouvido falar, seja nas redes sociais, seja na televisão, sobre A Mulher da Casa Abandonada. O programa investiga o caso de uma mulher que mora em Higienópolis, numa mansão extremamente mal cuidada, e que foi acusada, quando morava nos Estados Unidos, de manter uma empregada em condições análogas à escravidão.

O público brasileiro parece ter se apegado aos podcasts de crimes reais. Nesse universo, destaco a humanidade e a responsabilidade do programa Praia dos Ossos, que aborda a morte de Ângela Diniz, socialite assassinada a tiros por seu companheiro, Doca Street. No julgamento, o argumento principal do time jurídico que representou Doca foi a legítima defesa da honra, uma hipótese absurda para tentar absolver um homem do crime de feminicídio.

O episódio do assassinato já havia sido abordado com alguma empatia por Fernando Gabeira, no livro Sinais de vida do Planeta Minas. Entretanto, ao misturar a vida de Ângela Diniz com a de outras mulheres mineiras marcantes, Gabeira corrobora a aura mítica que muitos atribuem a Ângela desde que era figura frequente nas colunas sociais. Aguinaldo Silva também se debruçou sobre o caso e publicou O Crime Antes da Festa — obra de alcance limitadíssimo, disponível hoje apenas em sebos. Mesmo sem conhecer o texto de Silva, acho difícil que seja tão comprometido com o jornalismo quanto o podcast Praia dos Ossos. A apresentadora Branca Vianna apura um material denso, traça perfis dos envolvidos e entrega um material precioso, que supre as lacunas deixadas pelos livros sobre o caso.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB