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É formado em Direito pela UFPB e exerce funções dedicadas à Cultura desde o ano de 1999. Trabalhou com teatro e produção nas diversas áreas da Cultura, tendo realizado trabalhos importantes com nomes bastante conhecidos, tais como, Dercy Golcalves, Maria Bethania, Bibi Ferreira, Gal Costa, Elisa Lucinda, Nelson Sargento, Beth Carvalho, Beth Goulart, Alcione, Maria Gadu, Marina Lima, Angela Maria, Michel Bercovitch, Domingos de Oliveira e Dzi Croquettes. Dedica-se ao projeto “100 Crônicas” tendo publicado 100 Crônicas de Pandemia, em 2020, e lancará em breve seu mais recente título: 100 Crônicas da Segunda Onda.

Era Pornozóica

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publicado em 26/08/2022 às 07h43

Pelos relatos que leio diuturnamente no Twitter e em conversas paralelas nas redes sociais, claro que muitas picantes, acho que chegamos na era pornozóica. Quem dera James Joyce (1882-1941), o maldito autor irlandês de “Ulisses” estivesse vivo e entrasse no Grindr, marcasse encontros no Tinder, acessasse o anomo, down, 3nder, happn, blendr, 69places, be2, badoo, kickoff e tantos. Sua obra prima inaugurou o romance moderno e é considerada uma das mais importantes da literatura ocidental, mesmo imoral, indecente, pois inovou na estética homérica com pouca ou nenhuma vírgula e lotada de neologismos e trocadilhos. Ulisses, de Joyce, que completou 100 anos em fevereiro, era considerado pornográfico e blasfemo pelos padrões da época, consequentemente, o autor foi rotulado de indecoroso, extremamente sexual e sensualmente explícito. O romance foi censurado, banido, apelidado de livro sujo. Acho que seria tão natural hoje contar sem pudores no Twitter que Bloom era esmurrado em um cabaré de orgias enquanto sua esposa Molly regozijava sobre as virtudes de estar levando macetada violenta do seu amante incondicional. Os jovens de hoje inventaram essa palavra “macetar” para designar o ato de meter, transar, penetrar, fazer sexo brutal. Esse termo recém-criado é muito joyciano! 

Talvez as puritanas do “Face” denunciassem a página, geralmente reclamam por falta de sequência de macetada na vida real, enquanto alguns do “Insta” se masturbassem sigilosamente, mas com certeza Ulisses daria uma boa novela vespertina no Onlyfans. Seu autor anunciaria no Twitter a hora da lascívia explícita e os pagantes correriam pro “privacy” para se deleitar com a safadeza ao vivo dos protagonistas nas ruelas e becos da Irlanda. Acho que eu mesmo assinaria o pacote mensal, achando baratíssimo, pois segundo o próprio JJ, “tudo é caro quando você não está interessado.” Dizem que tudo tem seu tempo, eu nunca acreditei nessa frase. Acho que James Joyce estaria felicíssimo com os dólares entrando em sua conta a cada conto, nudes e ensaio erótico clicado e assistido aos montes nos apps nos dias atuais. Tem uma cena no filme Cinema Paradiso que o projetista já cego por causa do incêndio no cine provocado pelos rolos recheados de nitrato de celulose, segura uma nova película não inflamável e diz que a tecnologia e a modernidade sempre chegam atrasadas. É verdade! Uma pena! Sorry, Joyce! 

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB