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Francisco Leite Duarte é Advogado tributarista, Auditor-fiscal da Receita Federal (aposentado), Professor de Direito Tributário e Administrativo na Universidade Estadual da Paraíba, Mestre em Direito econômico, Doutor em direitos humanos e desenvolvimento e Escritor. Foi Prêmio estadual de educação fiscal ( 2019) e Prêmio Nacional de educação fiscal em 2016 e 2019. Tem várias publicações no Direito Tributário, com destaque para o seu Direito Tributário: Teoria e prática (Revista dos tribunais, já na 4 edição). Na Literatura publicou dois romances “A vovó é louca” e “O Pequeno Davi”. Publicou, igualmente, uma coletânea de contos chamada “Crimes de agosto”, um livro de memórias ( “Os longos olhos da espera”), e dois livros de crônicas: “Nos tempos do capitão” …

“Lá vem o negão”

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publicado em 02/09/2022 às 07h00
atualizado em 01/09/2022 às 16h58

Outro dia, com minha esposa e netinha, estivemos em um desses restaurantes que têm um parquinho para as crianças. Uma coisa ótima, por evidente, porém testemunhamos uma cena triste, dessas engendradas por mentes que nunca pensam o que dizem, ou, pensando, fazem questão, mesmo assim, de expelir, de suas bocarras imundas, acintes contra a dignidade das pessoas pretas.

Embora os manuais de psicologia não recomendem, ainda é recorrente os adultos – pais e avós, sobretudo – ameaçarem as crianças, em forma de reprimenda, com expressões como essas: “Saia daí, senão o bicho pega”, “o papa-figo pega”, (foto) “cuidado com o jacaré”, “carequinha pega” (eu morria de medo do palhaço Carequinha) e outras ameaças triviais, mas, naquele dia, o racismo estrutural mostrou toda a sua força, jorrado aos borbotões da boca do racista.

O pai, um jovem de mais ou menos trinta e cinco anos, jeitão cafona de classe média, gritava para sua filhinha de dois anos não brincar com os garotos mais velhos no pula-pula: “Saia daí, senão o negão pega”, “Saia daí, senão o negão pega”, “Saia daí, senão o negão pega”. Sim, isso mesmo. A expressão foi repetida uma dezena de vezes. Ele não percebia que aquilo era de uma imundície sem tamanha, comportamento escroto e repreensível sob todas as perspectivas em que for olhado.

Uma semana depois, leio reportagem dando conta de que o candidato bolsonarista ao governo do Piauí, Sílvio Mendes (União Brasil), em uma sabatina do jornal Meio Norte, ao ser indagado pela jornalista Katya D’Angelles sobre planos para proteger as mulheres e minorias, respondeu: “você, que é quase negra na pele, mas é uma pessoa inteligente, teve a oportunidade que a maioria não teve e aproveitou”.

É de não acreditar! Esse tipo de gente é descarada e criminosa a um só tempo. Racistas de carteirinha, do mesmo naipe de gente que se dirige aos negros e quilombolas com a expressão: “Tu pesas mais de 7 arrobas, né?”

Pois é, mau exemplo vindo de cima, o gado logo aprende.

@professorchicoleite

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