João Pessoa, 07 de setembro de 2022 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
O cidadão brasileiro Chico Buarque de Holanda está entre nós. A estreia nacional da turnê “Que Tal Um Samba?” aconteceu ontem no Teatro Pedra do Reino e hoje tem mais, muito mais. Imperdível. Restam poucos ingressos.
Que tal uma Mõnica?
A cortina se abre e a cantora Mônica Salmaso (convidada de Chico) está no palco, com um vestido solto, cara de menina, no clarão da alegria renovada, cantando “Todos Juntos” (Enriquez/Bardotti) versão de Chico Buarque e emenda com “Mar e Lua”, dele, “Passaredo” parceria com Francis Hime, “Bom Tempo” (Chico Buarque), e a belíssima interpretação de “Beatriz” de Edu Lobo de Chico, e a moça fecha esse momento com “Paratodos” dele.
Chico Buarque entra, com um blazer despojado, da cor da calça, com uma camisa preta e, claro, a plateia vai ao delírio. Canta com Mônica Salmaso “Velho Francisco, “Sinhá (de João Bosco e dele), “Sem Fantasia”, “Biscate e Imagina” (que Chico assina com Tom Jobim). Até aí valeu o show.
Casa cheia, Mônica sai de cena e volta várias vezes e Chico canta sozinho todas as gerações nas canções escaladas para o show que marca a história da nossa cidade, João Pessoa, de ter sido escolhida para a estreia da turnê Que Tal Um Samba? João Pessoa é o momento.
Chico começa com “Choro Bandido (dele e Edu Lobo), “Desalento” (de Chico e Vinícius de Moraes), “Sob Medida”, “Nina”, “Blues Pra Bia” e “Samba do Grande Amor” ( todas dele).
Que Tal Um Samba? é um show imenso de quase duras horas. Chico Buarque mostra mais uma vez o seu lado cronista. Sim, as canções são crônicas das cidades, dos amores, das dores, da banalidade, de gente de todas as cores, protestos, o Chico político, o compositor de canções que, além de populares, são marcadas por poéticas que nunca envelhecem, sofisticadas, desde do inicio, um escritor de muitos textos musicais. As canções parecem contos curtos, romances, cenas da vida como ela é, ou deveria ser ou será, talvez.
O show Que Tal Um Samba? é construído de músicas com narrativas completas, precisas, que movem a plateia, que falam da nossa vida sofrida e vencedora, de mudanças que criaram uma empatia com o público quase que chamado para cantar no palco com ele, principalmente, a se questionar sobre situações tais em sua vasta obra, apontando caminhos para problemas sociais, urbanos e suburbanos.
Mônica Salmoso volta ao palco e canta com ele “Injuriado” e logo sai de cena para a chegada de “Tipo um Baião”, “As Minhas Meninas”, “Uma Canção Desnaturada” que ele canta com Mônica Salmaso e, novamente fica sozinho com a banda : “Morro Dois Irmãos”, “Futuros Amantes”, “Assentamento”, “Bancarrota Blues” (Edu Lobo e dele) “Tua Cantiga” ( Cristóvão Bastos e dele), “Sabiá” (de Tom Jobim e Chico), “O Meu Guri”, “As Caravanas” com citação de “Deus lhe Pague” e veio então, a canção que motivou a turnê, lançada este ano – “Que tal um samba?, que ele começa a cantar sozinho e Mônica entra e cantam junto. Bis? Calma.
Ao assistir o show, a gente consegue perceber temas recorrentes nas canções de sempre. A situação política do país, trabalhadores, a indústria cultural, o capitalismo, a malandragem, as grandes cidades, o homem comum que é Chico Buarque de Holanda. Todos os signos e segmentos são motes frequentes da preocupação do compositor/escritor.
“O Meu Guri” pode ser classificado como um poema ou uma crônica da vida de um brasileiro indefeso, sempre em busca de um lugar ao sol, no compromisso do artista com a realidade que não muda. Os guris estão por aí. E quando o tema é amor correspondido ou não, sempre predominante nas canções – Chico Buarque arrasa e nos aponta para outro caminho, um atalho a ser pisado por muitas gerações em tons e sons, gritos e dores e gargalhadas. Chico é foda.
Bis e Banda
A plateia já está de pé e Chico Buarque e Mônica Salmaso cantam “Maninha” que ele diz lembrar e desejar a irmã Miúcha ali, “Noite dos”Mascarados“ e ”João e Maria” ( dele e de nosso Sivuca). O resto só indo hoje à noite para aplaudir de perto Mônica, Chico e banda formada pelo maestro Luiz Claudio Ramos (arranjos, guitarra e violão), João Rebouças (piano), Bia Paes Leme (teclados e vocais), Chico Batera (percussão), Jorge Helder (baixo acústico e elétrico), Marcelo Bernardes (sopros) e Jurim Moreira (bateria).
Produção geral de Vinícius França e direção técnica de Ricardo Tenente Clementino. A equipe criativa reúne Daniela Thomas no cenário, Maneco Quinderé no desenho de luz e Cao Albuquerque nos figurinos. Assessoria de imprensa Mário Canivello.
Chico Buarque é a voz de todas as gerações brasileiras.
Fotos – Léo Aversa e KP
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OPINIÃO - 22/11/2024