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Clara Velloso Borges é escritora, professora de literatura e mestranda em Estudos Literários pela Universidade Federal de Minas Gerais. E-mail: [email protected]  

Retórica do picareta

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publicado em 09/09/2022 às 07h00
atualizado em 08/09/2022 às 15h45

Os charlatães querem dominar o mundo. Nunca conheci um que tivesse levado porrada, todos os que conheço têm sido campeões em tudo. Ensinam como ficar milionário advogando, mesmo que esses não tenham conquistado seus quinhões impetrando habeas corpus. Prometem aprovações instantâneas em vestibulares, muitas vezes sem noções básicas de didática. Garantem emagrecimento massivo com terapia integrativa, seja lá o que isso signifique.

A retórica do picareta é barroca no que diz respeito à persuasão, mas ignora completamente a elegância do discurso. Suas frases truncadas e cheias de jargões facilitam a manipulação de evidências. Se as promessas parecem ser verdadeiras, o preço dos serviços que ofertam pode ser inflacionado. Com algum rigor científico, as técnicas do charlatão vão se revelando aquilo que estavam destinadas a ser: um fracasso.

Embora desonesta, a lábia abre portas. Lima Barreto tanto sabia disso que escancarou a má-fé em O homem que sabia javanês. No conto, o narrador, Castelo, conta como chegou ao posto de cônsul sem dominar as atividades preliminares do serviço diplomático. Iniciou a carreira como professor de javanês – sequer conhecendo o idioma. Prosperou com mais marketing pessoal do que com diplomas.

Enquanto isso, os profissionais honestos, tantas vezes reles, tantas vezes porcos, tantas vezes vis, falam bem menos sobre si. Acredito que estejam ocupados, estudando javanês.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB