João Pessoa, 15 de setembro de 2022 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
No campo da literatura ficcional realmente existem escritores imortais. Não me refiro àqueles que compõem academias de letras, mas aos que escreveram obras que se tornaram clássicas e ainda hoje são reeditadas. Um exemplo no Brasil é o genial Machado de Assis. No resto do mundo temos muitos imortais. Autores que eram muito lidos em sua época e, mesmo depois de mortos, continuaram sendo a principal fonte de renda de alguns editores.
Existem também aqueles autores que foram campeões de vendas em sua época, verdadeiros best sellers, e que hoje são completamente esquecidos. Como também outros que foram ignorados enquanto vivos e depois de mortos conquistaram o reconhecimento de suas obras, a exemplo do nosso paraibano genial Augusto dos Anjos. Exemplo dos esquecidos temos Humberto de Campos, Carlos Eduardo Novaes, Neymar de Barros. Isto não quer dizer que esteja nivelando o valor literário de suas obras, apenas enfatizando que vendiam muito.
Outro exemplo de autor de incontestável envergadura literária, de escrita pungente , reconhecido pelos seus pares e cujo livro A ladeira da memória (1950), saiu em primeira edição com tiragem de 45 mil exemplares, é José Geraldo Vieira (foto). Não sei se sua obra é estudada na universidade. Viera nasceu nos Açores e veio para o Brasil com poucos meses de vida. Foi médico no Rio de Janeiro e também formou-se em Ciências e Letras. Morou em Paris e Berlim. Escreveu outras obras e traduziu Dostoiéviski, Tostói, Stendhal e James Joyce.
Sobre José Geraldo Vieira escreveram grandes poetas, escritores e críticos de sua época, a exemplo de Manuel Bandeira que disse que ele, Vieira, era mestre da prosa de língua portuguesa; Érico Veríssimo enfatizou que “Aqui está o grande mestre do romance brasileiro de hoje”; O baiano Jorge Amado ressaltou que “Poucos romancistas contribuíram com tanta coisa nova para a novelística brasileira quanto José Geraldo Vieira. Não sei de figura mais nobre no cenário atual de nossa literatura”; Por sua vez, o grande estudioso da literatura brasileira Otto Maria Carpeaux sentenciou: “Não pode ser comparado a nenhum outro romance brasileiro, nem a Machado nem a Graciliano que admiro tanto. É outra espécie. E acho que a renovação futura da arte do romance no Brasil partirá do seu livro – ou então não se renovará nada”. Sérgio Milliet vaticinou que o romance de Vieira “rompe as fronteiras da simples narração” de onde vem “o valor profundo de sua obra”.
Quem quiser conhecer a obra de José Geraldo Vieira, a editora Sétimo Selo relançou A ladeira da memória em 2021, e então o leitor poderá tirar suas próprias conclusões, se achar que os depoimentos acima transcritos são apenas confetes de confrades literários ou integrantes de igrejinhas bajulatórias.
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TURISMO - 19/12/2024