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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Mumu e suas paciências

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publicado em 20/09/2022 ás 07h00
atualizado em 19/09/2022 ás 21h18

O amigo Marcelo Jardelino, liga em prantos. Eu não conseguia entender o que ele falava. Chorava compulsivamente. Eu estava no mercado comprando frutas e procurei um tamborete, para sentar e acalmar minha alma, quando ele disse: “Kubi, Mumu morreu”.

Isso dele dizer Mumu morreu me conduziu para o Bairro dos Estados, onde eles moravam com os pais JJ e Dona Tezinha. Eu amava Murilo Jardelino pela paciência, rigor, educação e vasta cultura. Eu o amava porque Murilo exibia a correspondência.

Amar os homens é uma tarefa difícil, a gente só consegue quando recebe um sinal e a possibilidade de chegarmos perto. As mulheres são mais ousadas, sensuais e provocam alvoroços nos homens.

Lembrei do belo e jovem poeta espanhol Pablo Fidalgo Lareo e seu poema “Paciências”. Só nos resta paciência, senão estaremos todos condenados a inversos mais frios e verões bem quentes. “Sei que esta é a única margem/por isso ponho-me a olhar o rio sem pensar”.

Pablo é luz. Murilo se encantou. “Meninos do rio. A casa está no mar. O comboio é uma máquina de um mundo superior que arrasa tudo o que fui” Mas nem tudo se foi…

No Instagram, o irmão Marcelo, escreveu que era ele quem devia ter ido antes de Murilo. Não é bem assim, do nosso dia, ninguém foge, apesar de alguns morrerem de graça ou anteciparem como fez Jean-Luc Godard e como fará, em breve, o ator Allain Delon.

Como dizer quem era Murilo Jardelino? Era amplo.  Murilo foi morar em São Paulo e nunca mais voltou, ele gostava da sensação cosmopolita.

Eu amo as pedras, até elas se encontram. Amo as ruas e as cidades e “São Paulo é como o mundo todo” – amo os livros que vivem comigo, o modo como me comporto diante das pessoas, minha vida passageira, por isso fico triste quando perco um amigo.

Como a amizade foi feita exatamente sem se pensar em ninguém, amo o sinal fechado para que eu possa ver o que não vejo, quando o carro está em movimento.

Murilo disparou, vida mínima.  Se livrou das guerras da política dos homens.

Lembro de Murilo caminhando comigo pelas ruas da cidade velha, em dias de sol e eu lendo meus textos iniciais para ele, na década de 80. Ele adorava.

Foi dado a ele o descanso.

Isto é um pouco de Murilo, só um pouco.

Kapetadas

1 – A vitória sempre vai incomodar seus adversários. É por isso que eu não incomodo ninguém.

2 – Bom dia só pra quem aguarda os humilhados serem exaltados.

3 – Som na caixa: “Vai tua vida/Teu caminho é de paz e amor”, Jobim

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB