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Observadores internacionais foram alvos de tiros ao tentar entrar no vilarejo de al-Qubair, em Hama, onde na quarta-feira 78 civis (entre eles, dezenas de crianças e mulheres) teriam sido mortos por membros da milícia pró-Assad Shabiha. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, contou que os monitores foram atingidos por disparos de armas pequenas . A chacina, que aconteceu menos de duas semanas depois do massacre em Houla, foi condenada pela comunidade internacional. Ban classificou o episódio de "chocante" e "barbaridade sem palavras". Mais cedo, a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, instou Assad a abandonar seu país.
– Estamos recebendo informações de moradores no local que a segurança de nossos observadores corre risco se eles entrarem no vilarejo – contou Ban. – Apesar dos desafios, os observadores ainda estão tentando entrar em al-Qubair para investigar os fatos no local.
Pela manhã, a oposição denunciou os primeiros esforços de Damasco para impedir o acesso dos monitores internacionais à pequena vila de Hama. A TV síria, no entanto, diz que os observadores estão no local, apesar de o próprio general Robert Mood, chefe da missão de paz, ter confirmado que seus homens foram obrigados a voltar, por membros do Exército sírio, quando estavam a caminho de al-Qubair.
"Eles estão sendo parados em postos de controle do Exército sírio e, em alguns casos, são obrigados a voltar. Algumas das nossas patrulhas também estão sendo paradas em áreas civis", contou o general, em comunicado.
Estarrecida diante dos novos relatos de violência, a comunidade internacional protestou contra o regime Assad nesta manhã. Hillary Clinton disse que a violência no país é "inadmissível" e culpou o presidente Bashar al-Assad por "duplicar" sua campanha de repressão. Em Istambul, Hillary comentou a chacina em Hama, dizendo que a Síria não será um país pacífico, estável e democrático até que Assad abandone o poder. A secretária instou o ditador a abandonar seu país. Apesar das denúncias de opositores, no entanto, o governo de Damasco insiste que o massacre de quarta-feira foi perpetrado por terroristas. Mais cedo, o premier britânico, David Cameron, pediu nesta manhã a união para condenar o novo massacre:
— Precisamos fazer muito mais para isolar a Síria e o regime, para pressionar e demonstrar que o mundo todo quer ver uma transição política deste governo ilegítimo para ver um novo que de fato se importar com seu povo.
Segundo ativistas, a chacina em al-Qubair teria acontecido de maneira similar à matança de Houla, no último dia 25, quando grupos armados ligados ao governo mataram mais de 100 pessoas, incluindo dezenas de crianças. Testemunhas dizem que os vilarejos em Hama foram alvo de bombardeios e depois foram invadidos por membros da milícia Shabiha, a mesma acusada de matar civis em Houla. Entre os mortos de quarta-feira, estariam ao menos 40 mulheres e crianças.
— Temos dezenas de mortos nos povoados de Al-Qubair e Maarzaf, entre eles cerca de 20 mulheres e 20 crianças — disse Mohamed Sermini, porta-voz do Conselho Nacional Sírio, principal grupo de oposição a Assad.
Militares já vinham ocupando há dias os arredores dos vilarejos, que ficam a cerca de 20 quilômetros da capital, Hama. Na ação, a milícia Shabiha teria matado civis a facadas e com tiros a queima roupa, além de queimar várias casas. Pelo menos 40 das vítimas foram enterradas hoje em valas comuns de al-Qubair, contou um jovem ativista à CNN. Os outros corpos teriam sido levados pela Shabiha para vilarejos próximos.
Kofi Annan discursa na ONU
O enviado especial para Síria, Kofi Annan, se reúne nesta quarta-feira com a Assembleia Geral e o Conselho de Segurança da ONU. No discurso na Assembleia, o ex-secretário-geral expressou "horror e condenação" diante do massacre em al-Qubair. Ele fez um apelo para que matanças como a de quarta-feira não se tornou "realidade no dia a dia". Com a escalada da crise, o país está cada vez mais polarizado e radical, disse Annan.
Segundo o diplomata, o presidente sírio explica como impasse para o fim da violência nos "militantes". Mas Annan disse que o governo tem que tomar o primeiro passo para o cumprimento do cessar-fogo. Apesar da trégua estipulada em acordo com a ONU e a Liga Árabe, o Exército não suspendeu os bombardeios e grupos armados teriam "intensificado seus ataques".
– A comunidade internacional deve agir junto e se comportar como uma – disse Annan.
O Globo
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