João Pessoa, 23 de setembro de 2022 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Exposta na vitrine, a capa de um livro tem dois nomes em destaque: o do livro e o do autor. Parece que aquele sujeito, detentor de poderes crativos, foi o único responsável por trazer a obra ao mundo. Entretanto, o processo editorial tradicional envolve muitos profissionais. Nesse sentido, Luís Fernando Veríssimo (foto) dedica uma de suas crônicas ao revisor, que considera o segundo autor de qualquer texto literário.
O revisor não ganha louros, como o escritor, e sua relação com o texto é ambígua. Quando um autor reclama que o revisor mexeu demais em seu texto, é possível que o mesmo revisor tenha se achado polido, com avareza de opiniões, resistindo à tentação de mexer no verbo e no ego alheio.
Dizem que para ser um bom revisor, tem que ser um bom escritor. Nem sempre procede. Alguns revisores são como técnicos de vôlei: sabem decifrar os problemas e direcionar a equipe, mas não necessariamente jogam bem o esporte. A posição discreta do revisor, para mim, se assemelha à do dublê: são profissionais que fazem, nos bastidores, aquilo que o profissional sob os holofotes não conseguiu fazer.
Saramago, em História do Cerco de Lisboa, discorre sobre como alguns autores, como Balzac e Eça, seriam ótimos revisores. Com seus desdobramentos pirotécnicos de correções e aditamentos, enxergariam o texto além do que o que o escritor viu. Homens de outra época, Balzac e Eça talvez hoje se refestelassem diante do Word, interpolando ideias, transpondo linhas e trocando capítulos. Bom para eles, ruim para os leitores curiosos quanto ao processo criativo. Afinal, a nuvem digital não costuma comportar os descartes e as edições anteriores. Então, não sobrariam arquivos dos caminhos pelos quais os escritores andaram e se perderam antes de alcançarem a definitiva forma da literatura.
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OPINIÃO - 22/11/2024