João Pessoa, 24 de setembro de 2022 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Era uma vez, num reino muito distante, um Rei que estava com seríssimos problemas de caixa. Decidiu convocar os Estados Gerais (clero, nobreza e povo) para encontrar meios de resolver a situação. Bondoso, concedeu ao povo, que representava 98% da população, o direito de ter mais deputados do que o clero e a nobreza. Com prudência, porém, o Parlament (o S.T.F. de lá) decidira que o voto seria tomado por Estado; ou seja, pouco importava o número maior de deputados porque ao final o clero teria um voto, a nobreza outro voto e o povo também teria um único voto. O povo revoltou-se, separou-se da nobreza e do clero e criou a Assembleia Nacional, que representaria todo o reino, jurando lutar até o fim para obter uma Constituição. Queridos leitores, aquilo lá transformou-se numa quizumba sem limites e o povo assumiu todo o poder. Quanto ao bondoso Rei, cortaram sua cabeça.
Sim, resumi a revolução francesa. A França passou a ser uma República e o povo francês ainda hoje pensa que é o dono do poder, sem prestar atenção que seus donos atuais são os poderosos que dominam o mundo; banqueiros, industriais e empresários. Periodicamente realizam-se eleições para decidir quem serão os novos políticos a serem manobrados pelos verdadeiros patrões, dando uma falsa sensação de poder ao povo.
Isso acontece em todas as nações ditas democráticas ao redor do mundo. É da sabença de quem ultrapassou as peias das ingênuas paixões políticas.
Aqui no Brasil não é diferente. Lembram que o povo foi às ruas para derrubar Collor? Posteriormente voltou às ruas em 2013 contra a corrupção. Em 2016 mais uma vez o povo estava nas ruas para cassar Dilma.
Sejam sinceros, quando os sacripantas destinam 5 bilhões de reais para uma campanha eleitoral ou torram 15 bilhões de reais num tal orçamento secreto, é o povo que está decidindo? Ter ido para a rua e derrubado presidentes ou proclamado a infâmia da corrupção mudou alguma coisa?
Tomasi di Lampedusa (1896/1957) (foto) já ensinava: “-Se quisermos que tudo continue como está é preciso de tudo mude”. Einstein teve uma sacada incrível: “- Insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes”. Ora, ao continuarmos a manter esse tipo de democracia somente mudando os supostos representantes do povo, todos os problemas dessa democracia continuarão a existir. O que precisamos é mudar a atual democracia, sem nos afastarmos um milímetro do respeito à liberdade e sem dar azo a qualquer tipo de regime totalitário. Tenho certeza de que se não conseguimos melhorar o sistema até agora é porque os intere$$e$ não o permitem.
Enquanto não fizermos isso acontecer seguiremos sendo o que vaticinou a ex-Ministra Zélia Cardoso de Melo: “- O povo é só um detalhe”. Que Deus nos indique o caminho do protagonismo.
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OPINIÃO - 22/11/2024