João Pessoa, 01 de outubro de 2022 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
(Em memória de Dona Miriam)
Olhando para Ângela Bezerra, a gente vê o coração nos olhos. É como olhar onde floria o abacateiro ou olhar para a ribalta.
Ângela chega aos 80 anos e o vento não ousa levá-la dos meus olhos. Meu pai dizia que só se vê bem com o coração, mas o vento soa a uma longa conversa que nunca terminaremos. Parabéns, Anginha!
Ângela salta nos ânimos meus e passaríamos tardes inteiras assim, ela a falar das coisas simples e eu a tentar decifrar o que vejo nos seus olhos azul turquesa.
Chegar aos 80 anos, igual Caetano Veloso, de pé, com um reflexo mais que perfeito, chegar inteira a cada linha do novelo, merece reter da vida outros reflexos, suspiros, não os últimos, mas uma vida carregada de afazeres, de ânimos, perdas e ganhos.
Puxa vida! Viver é bem melhor que sonhar, viver é solar, é como debulhar o trigo, que faz o pão de cada dia.
Tantas páginas ensinadas, alunos e saudades a virar paisagens, engenhos, e os meninos de Zé Lins.
Âncoras, barcos, navios, cavalos e sobre os moveis e paredes da casa de Ângela, retratos da mãe, do irmão, dos avôs, de sua gente e de seus gatos, companheiros que já se foram.
Retratos que parecem desenhos nas paredes, acolhendo memórias da linhagem ancestral. Ângela é astral.
Mal sabia eu que um dia seria amigo de Ângela Bezerra, que na noite de ontem, estaria perto de seu calor, na festa dos 80 anos.
Já quase me falta o coração crispado, o batidão, mas os olhos do coração não me faltam.
O mais difícil é ser pouco, mas muito ainda é muito pouco do que eu possa dizer sobre Ângela.
O intolerante caiu na esquina, o idiota com seu pijama de listra, os do contra nunca vão saber quem é Ângela.
Eu a imagino Ângela dos tempos de juventude, os olhos brilhantes a levá-la a estrada mais distante, o velho Liceu, a alegria das ruas, o passeio de Ângela, tão querida, Ângela.
Kapetadas
1 – Esse crime de amar demais que nunca prescreve.
2 – Cada vez que a gente se acostuma, a gente morre um pouco. Eu não me acostumo nunca.
3 – Som na caixa: “E o vento que fala nas folhas/Contando as histórias que são de ninguém” Jobim
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OPINIÃO - 22/11/2024