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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

O coração nos olhos

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publicado em 01/10/2022 às 09h06
atualizado em 01/10/2022 às 06h57

(Em memória de Dona Miriam)

Olhando para Ângela Bezerra, a gente vê o coração nos olhos. É como olhar onde floria o abacateiro ou olhar para a ribalta.

Ângela chega aos 80 anos e o vento não ousa levá-la dos meus olhos. Meu pai dizia que só se vê bem com o coração, mas o vento soa a uma longa conversa que nunca terminaremos. Parabéns, Anginha!

Ângela salta nos ânimos meus e passaríamos tardes inteiras assim, ela a falar das coisas simples e eu a tentar decifrar o que vejo nos seus olhos azul turquesa.

Chegar aos 80 anos, igual Caetano Veloso, de pé, com um reflexo mais que perfeito, chegar inteira a cada linha do novelo, merece reter da vida outros reflexos, suspiros, não os últimos, mas uma vida carregada de afazeres, de ânimos, perdas e ganhos.

Puxa vida! Viver é bem melhor que sonhar, viver é  solar, é como debulhar o trigo, que faz o pão de cada dia.

Tantas páginas ensinadas, alunos e saudades a virar paisagens, engenhos, e os meninos de Zé Lins.

Âncoras, barcos, navios, cavalos e sobre os moveis e paredes da casa de Ângela, retratos da mãe, do irmão, dos avôs, de sua gente e de seus gatos, companheiros que já se foram.

Retratos que parecem desenhos nas paredes, acolhendo memórias da linhagem ancestral. Ângela é astral.

Mal sabia eu que um dia seria amigo de Ângela Bezerra, que na noite de ontem, estaria perto de seu calor, na festa dos 80 anos.

 Já quase me falta o coração crispado, o batidão, mas os olhos do coração não me faltam.

O mais difícil é ser pouco, mas muito ainda é muito pouco do que eu possa dizer sobre Ângela.

O intolerante caiu na esquina, o idiota com seu pijama de listra, os do contra nunca vão saber quem é Ângela.

Eu a imagino Ângela dos tempos de juventude, os olhos brilhantes a levá-la a estrada mais distante, o velho Liceu, a alegria das ruas, o passeio de Ângela, tão querida, Ângela.

Kapetadas

1 – Esse crime de amar demais que nunca prescreve.

2 – Cada vez que a gente se acostuma, a gente morre um pouco. Eu não me acostumo nunca.

3 – Som na caixa: “E o vento que fala nas folhas/Contando as histórias que são de ninguém” Jobim

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB