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Ana Karla Lucena  é bacharela em Direito pela Universidade Estadual da Paraíba. Servidora Pública no Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba. Mãe. Mulher. Observadora da vida.

À procura do tom perfeito

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publicado em 03/10/2022 às 07h00
atualizado em 02/10/2022 às 13h51

Ela quis pintar uma tela. Tratou de pegar os pincéis e tintas, as mais variadas.

Seria uma tela muito colorida e ficaria exposta numa galeria onde muitas pessoas poderiam admirá-la.

Ela queria, então, que sua tela mudasse as pessoas, que quando a vissem pudessem receber um pouco da luz que ela mesma possuía.

Começou a trabalhar.

Azul. Ela amava o azul. Era sereno, tranquilo. Cor de céu, cor de mar. Cairia bem, perto do amarelo, que é um pouco mais agitado e alegre. Juntos, trariam um certo equilíbrio à pintura.

Mas a tela estava um pouco fria… faltava calor, emoção. Então, ela lembrou-se do vermelho. A imponência, a paixão, o fogo dele não poderiam ficar de fora.

Agora sim, ela olhava para a tela e via aquela festa de cores aguçar todos os seus sentidos. Mas, ainda faltava algo. Ou talvez sobrasse, ela já não sabia a  esta altura. Talvez tenha pesado a mão. Estava tudo muito agitado.

Ah… faltava ele, o verde, ele sim traria de volta a paz e a serenidade necessárias à tela. Uma pincelada aqui, outra ali…

Ainda não estava bom. E ela foi acrescentado tinta.

De repente, notou que o que antes era uma festa de cores, agora era uma tela cinza.

Aquilo estava longe de ser o que ela imaginou. E não havia como voltar atrás. Ela chorou.

Olhou para o seu trabalho e viu um todo sem nenhum significado. Não remetia a nada.

Já não poderia mais expor sua arte. Como era ruim a sensação de não poder se expressar!

Quis aposentar os pincéis. Achou que perdeu o jeito. Talvez aquilo não fosse mais para ela.

Mas, lá no cantinho da sala, escondida entre outras telas já pintadas e pincéis, e tecidos, e tantas outras coisas, ela encontrou uma tela em branco. Um branco que reluzia pra ela como um farol no meio da noite reluz, orientando o caminho.

Ela tinha que tentar mais uma vez.

Pegou a tela, os pincéis, as tintas.

E está pintando.

Não terminou ainda.

Está indo devagar.

Tem medo.

Ainda chora achando que não vai conseguir.

Mas pinta.

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