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Francisco Leite Duarte é Advogado tributarista, Auditor-fiscal da Receita Federal (aposentado), Professor de Direito Tributário e Administrativo na Universidade Estadual da Paraíba, Mestre em Direito econômico, Doutor em direitos humanos e desenvolvimento e Escritor. Foi Prêmio estadual de educação fiscal ( 2019) e Prêmio Nacional de educação fiscal em 2016 e 2019. Tem várias publicações no Direito Tributário, com destaque para o seu Direito Tributário: Teoria e prática (Revista dos tribunais, já na 4 edição). Na Literatura publicou dois romances “A vovó é louca” e “O Pequeno Davi”. Publicou, igualmente, uma coletânea de contos chamada “Crimes de agosto”, um livro de memórias ( “Os longos olhos da espera”), e dois livros de crônicas: “Nos tempos do capitão” …

Oxente! Vá se lascar, seu arrombado!

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publicado em 07/10/2022 às 07h40

Se você tivesse a capacidade de entender o que é um cordel, daqueles burilados nas margens encantadas do Velho Chico, ou nas rusgas dos córregos magrelos do sertão da Paraíba, seria diferente;

Se você tivesse as habilidades de um repentista daqueles violeiros que encantam o açude velho de Campina grande, passando por Monteiro e desaguando nas terras lirolindas de Pernambuco, seria diferente;

Se você tivesse o paladar capaz de reconhecer as mil nuances do sabor do cuscuz, combinando-as com macaxeira ou carne de sol na nata ou sardinha, até cair esbaforido em uma rede colorida e macia, empurrando o pé na parede e soltando bufa ao Deus dará, seria diferente;

Se você tivesse a coragem dos vaqueiros do agreste sertanejo e engolisse todas as proparoxítonas do destino com a galhardia e paciência próprias de um cristão verdadeiro, seria diferente;

Se você tivesse a disposição e maestria das louceiras, suas mãos enterradas no barro molhado em ânsia de se fazer moringa – lisinha e fria – que mata a sede dos flagelados nas capoeiras de algodão, seria diferente;

Se você tivesse boas ouças e ouvisse o som das lágrimas marinadas nas estrofes de “Asa branca”, a alegria e honradez na cantiga do berimbau e a melodia do vento Aracati, seria diferente;

Se você tivesse uma venta bem grande capaz de sentir o cheiro das velas e das tabocas nas novenas e romarias, com o coração contrito na autêntica fé dos ensinamentos de Jesus Cristo, seria diferente;

Se você tivesse a dignidade dos homens e mulheres que se iluminam de fortaleza e resiliência quando põem um chapéu de couro, esse solzão cheio de magia e esperança para o Nordestino, seria diferente.

Tem gente que não sabe o que é uma fulor de mandacaru, um caroço de juá, uma gaitada gostosa, o primeiro Sol na praia dos Seixas, os lençóis maranhenses, o bumba-meu-boi, o frevo pernambucano, o cheiro da Bahia, as rendeiras das Alagoas, uma tapioca de coco, um arrasta-pé no maior são João do mundo, uma peixada ao leite de coco, mas ainda assim respeita a vontade de um voto, a igualdade que ainda resta nesse país de injustiçados.

Eis, aí, pois, a simplicidade do Nordeste. Do mais que ele tem – e tem em abundância – qualquer analfabeto de bom coração sabe de cor e salteado. Você, não. É reles iletrado morador das profundezas da ignorância. No mais, só quer votos.

Por isso que o Nordeste grita: Oxente! vá se lascar, seu arrombado!

@professorchicoleite

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