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Ana Karla Lucena  é bacharela em Direito pela Universidade Estadual da Paraíba. Servidora Pública no Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba. Mãe. Mulher. Observadora da vida.

Meu primeiro fio de cabelo branco

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publicado em 10/10/2022 às 07h00
atualizado em 09/10/2022 às 14h22

Oito de outubro do ano de 2022. Acordei, fui ao banheiro e, como de costume, olhei-me ao espelho. Ele estava lá. Aos quarenta e um anos, vi meu primeiro fio de cabelo branco. É oficial: o tempo passou para mim. Peguei, senti a textura do fio. Ainda  não está totalmente branco, mas, a tonalidade castanho-escura que antes existia, perdeu muito de sua nuance. Pensei: tiro? Para quê deixá-lo? Ao mesmo tempo, por quê tirá-lo? Deixei. Vou usá-lo para um fim específico.

Vou usá-lo sempre que quiser (ou precisar) me lembrar de algumas verdades que a correria diária geralmente me fazem esquecer.

Sabe…? Apesar da vaidade feminina me dizer que esse é só o primeiro de muitos outros que virão e me questionar sobre o que farei a respeito, não me incomodei com esse inusitado primeiro fio branco. E fui lembrando de outras coisas. Lembrei-me de que também não me importo com as cicatrizes. Trago algumas  pelo corpo. Algumas oriundas da maternidade. Outras de cirurgias necessárias, mas todas contam uma história. Histórias de alegrias, de dores, de amores, de companheirismo, de amizade. De pessoas que, sem nenhuma pretensão,  dedicaram ao meu cuidado tanto tempo, tanto carinho, tanta amizade e preocupação. Na verdade, esses sinais, para mim, representam caminhos por onde passei, pessoas a quem amei, quanto amor recebi. E… como foi rápido…!

Outro dia, Lucas, o mais travesso, estava me perguntando quando entraremos no século 22. É… eles fazem esse tipo de pergunta! Rsrsrsrs… Comprei uma dessas assistentes virtuais para me auxiliar na difícil tarefa de responder a todas as questões provenientes dessas mentes jovens tão sedentas de conhecimento. Rsrsrsrs… Outro dia também me perguntaram quem era o pai de Deus, enfim… voltando à pergunta… Eu respondi: daqui a quase 80 anos, filho, e mamãe já não estará mais aqui.

Seguiu-se um silêncio… não demorou muito, ele falou: ufa…!!! Ainda bem que falta muito, mamãe! Rimos e nos abraçamos.

Mas não falta não! Passa rápido demais! Nossa vida é um sopro. É como uma viagem, você entra no trem e sabe que tem um destino certo, ao qual chegará, mais cedo ou mais tarde. Como a Aquarela de Toquinho, que um dia descolorirá. Como o fio de cabelo que naturalmente descoloriu. E tudo bem pensar sobre isso. Porque por mais que queiramos afastar da nossa mente o fato de que hoje vivemos mas um dia morreremos, não afasta de nós a lei inexorável da natureza. Um dia partiremos. O esquema da vida resulta em sua transitoriedade.

Então, quero viver este momento, a dádiva do viver, na perspectiva do agora. Amar agora. Sorrir agora. Sonhar agora. Curtir meus filhos, meu pai, meus irmãos, amigos, agora! O trabalho excessivo pode esperar, o cansaço e todos os outros afazeres podem esperar. Afinal, “da vida só levamos isso e uma muda de roupas e  nem somos nós que a escolhemos”, como diz o ditado bastante popular.

Por isso, plantemos e vivamos HOJE as sementes da nossa eternidade!

Para me lembrar de tudo isso, usarei meu primeiro fio de cabelo branco.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB