João Pessoa, 24 de outubro de 2022 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Se essa rua fosse minha… não mexeria em nem um milímetro da sua arquitetura. Pois a amo exatamente do jeito que a vi quando passei por ela pela primeira vez. Cada paralelepípedo. Foi nela onde olhei o horizonte e senti a sensação de pertencimento mais aconchegante que se pode conhecer. Que dia lindo foi aquele. Que sensação indescritível. Todo o mundo estava ao alcance das minhas mãos, mas eu só queria estar ali, respirando aquela atmosfera, totalmente enebriada pelo frescor da brisa que sentia no rosto.
As árvores do bosque já não são as mesmas. Apenas as mais antigas, cujas raízes formaram um sistema venoso profundo com a terra. E estas já nem se fazem notar. Mas minha árvore ainda está lá. Como eu sei? Por causa do entalhe que foi feito nela. Entalhe regado e eternizado pela seiva. E, todas as vezes que eu entro no bosque, instintivamente procuro por aquela árvore. Quando estou longe, sonho com ela e me pergunto quanto tempo de vida ela ainda terá. Sem poda, sem ninguém que traga um pouco de água, sem nenhum cuidado.
O anjo não está mais lá. Acho que cansou de esperar que o coração roubado se rendesse ao seu chamar. Talvez, se ele gritasse um pouco mais alto…mas não o fez. Será que o amordaçaram? Invadiram sorrateiramente o bosque e o convenceram a desistir? Enfim… certamente foi morar em outro, que, agora, já não se chama mais solidão.
Sim, querido anjo… ambos fomos roubados e enganados por nossos próprios instintos. A rua acabou. Sigo para a próxima, pois o caminho precisa ser trilhado. Será que haverá um bosque? Algum outro anjo meliante à procura de corações dispostos a serem roubados? Não sei. Saberei. Mas o entalhe estará sempre lá.
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