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Clara Velloso Borges é escritora, professora de literatura e mestranda em Estudos Literários pela Universidade Federal de Minas Gerais. E-mail: [email protected]  

Solidão, que nada

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publicado em 28/10/2022 às 07h00
atualizado em 27/10/2022 às 15h38

Há bilhões de pessoas sobre a Terra, com seus sonhos, anseios e diferenças, formando um caleidoscópio étnico. Em comum, talvez, compartilhemos apenas a busca pela felicidade. Embora estejamos cada vez mais conectados, parece que estamos, também, cada vez mais sozinhos.

Na vida adulta, é difícil ter a habilidade social de Lygia Fagundes Telles, que era amiga de inúmeros escritores. Simone de Beauvoir, Jean Paul Sartre, José Saramago, Mário de Andrade, Cecília Meireles, Jorge Amado, Clarice Lispector, Hilda Hilst, Carlos Drummond de Andrade, Caio Fernando Abreu… Todos eles tinham afeto e alguma intimidade com a autora de Ciranda de Pedra.

Entre a maratona diária de atividades que se impõem na rotina, os amigos vão se tornando escassos. Com essa perspectiva, pode-se até olhar para Hamlet com menor espanto por conversar com uma caveira. Yorick era um bobo da corte na peça shakesperiana, cuja caveira Hamlet toma nas mãos para lhe fazer companhia. Não diminui, contudo, a estranheza: quem quer companhia, quer gente viva, que pense, fale, compre, beba, leia, vote e não se esqueça.

Na ausência de amigos, seja por distância física, seja por falta de tempo, sorte de quem tem um livro. Uma história escrita, por vezes, pulsa tanto quanto gente.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB