João Pessoa, 29 de outubro de 2022 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
eu fiquei apaixonadíssimo pelo “conto da ilha desconhecida” de josé saramago. nem era mais para ficar. é como se eu já soubesse do barco, do homem, do rei e da mulher, mas, dificilmente se acredita que os textos, os bons textos, ainda existam. será?
ao contrário do lugar comum onde se encontra a vã consolação, o ego, a piedade, a dor da não realização, a ilha desconhecida leva a gente para o contrário da crença de que precisamos de tantas coisas para viver. Basta um rádio, um chinelo, um anzol, o boné e a roupa de domingo.
a ilha de saramago traz a glória, o gozo, a eternidade e, há neste sentimento, que é meu, que é seu, é só querer, de que para certa rara gente tudo foi uma única vez. não foi, não é. tente outra vez.
não existe o homem sem a ilha desconhecida, mas ele deve insistir em procurá-la longe dos mapas.
as ilhas descobertas nos separam do sonho e penso sempre que as coisas que devoram um mortal, um simples mortal, sempre vão devorar os que se apegam demais, sem necessidade.
Deus tenha misericórdia dos que só querem realizar, ganhar e esquecem que sonhar, que é tão bom.
um dos silêncios de saramago, embora muita gente não goste da obra dele, mas a ilha desconhecida é uma obra inteira, além da nossa cegueira.
belo conto, órgão vital, o que gera visão, entendimento e conhecimento.
há pessoas assim cuja existência é uma ilha, que se ausentam para buscar outras ilhas desconhecidas.
não falo já de qualidade, mas da necessidade. falo, sim, da quantidade de um conto e não gosto muito de contos, mas da ilha é um sonho, que há em cada corpo, em cada alma.
dificilmente se acredita que novos textos tenham formas de nos seduzir inteiramente, mas na ilha de saramago, a insónia não existe. vem, me dê a mão.
kapetadas
1 – saramago é tendência, é termômetro, benzadeus!
2 – eu quero o fim das placas nas ruas de gente pedindo comida.
3 – som na caixa: “mas o tudo que se tem, não representa nada”, luiz melodia.
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OPINIÃO - 22/11/2024